Os jovens advogados ganham menos do as empregadas domésticas dos patrões, os jovens arquitectos estão sem perspectivas de emprego, os jovens engenheiros trabalham como operários especializados, os bancos contratam licenciados em gestão para balconistas. Os nossos jovens já nem ao estatuto de proletariado têm direito, o patrão é um recibo verde.
Muitos dos que vivem tranquilamente as reformas ou estão à beira disso tiraram o sétimo do liceu mais uma licenciatura de cinco anos e com vinte e dois anos ou pouco mais empregavam-se, compravam ou alugavam casa e davam a entrada para o carro. Hoje o país e o mundo produz muito mais riqueza e os jovens bem mais qualificados do que os seus progenitores estão no desemprego ou trabalham quase com o estatuto de voluntários, arrastam-se pelas casas dos pais e em chegam aos quarenta sem grandes perspectivas profissionais.
Não é por falta de qualificação porque saem das universidades com mais qualificações e anos de estudo, não é por não estarem preparados para o emprego pois nem sequer lhes dão essa possibilidade, é sim por oportunismo social que agora é justificado com a sacrossanta competitividade. Em nome de uma competitividade herdada dos tempos dos salários baixos da indústria têxtil destrói-se um modelo social equilibrado e instala-se uma sociedade de sacanas sem princípios.
E oq eu fazem os partidos políticos? Desdobram-se em medidas que se destinam a demolir o que resta do modelo social, num dia o governo corta os salários copiando o que fez a Irlanda, no outro altera a lei laboral imitando o que fez a Espanha, o Pedro Passos Coelho reúne-se em jornadas parlamentares para discutir a possibilidade de despedir funcionários públicos, diz que não deseja as medidas mas vai discutindo-as, discorda delas mas admite adoptá-las se o obrigarem.
Nestes dias tem-se falado muito da revolução que vai minando o mundo muçulmano aqui ao lado, ainda que a luta contra as ditaduras iluda talvez o verdadeiro problema, a ausência de esperança por parte de muitos magrebinos e egípcios. A mesma falta de esperança que minha a juventude portuguesa e que se tem vindo a alastrar à sociedade, ainda que a existência de uma democracia impeça o efeito de Penela de pressão.
Mas note-se que uma boa parte da nossa juventude deixou de confiar na democracia ao ponto de as últimas presidenciais terem parecido uma eleição do presidente de um lar de terceira idade, pior ainda, deixou de confiar no país passando a procurar a solução para os seus problemas no estrangeiro.
Enquanto os políticos se vão divertindo a encontrar formas de reduzir os rendimentos, aumentar a precariedade no emprego ou promover o desemprego para assegurar a retoma económica que lhes garanta ganhos eleitorais para se manterem ou chegarem ao poder, uma boa parte dos portugueses vão sendo excluídos da riqueza que o país produz e estão cada vez menos interessados em saber se o país cresce ou não pois é certo que os benefícios desse crescimento e resultado dos seus sacrifícios vão para os mesmos.
Enquanto os analistas se vão divertindo fazendo prognósticos sobre o que vai suceder no norte de África talvez fosse melhor ideia reflectirem sobre até quando os portugueses, em particular, os jovens, terão paciência para suportar o que está sucedendo no país. Enquanto fazem prognósticos sobre qual o próximo país muçulmano a soçobrar à revolução de jasmim, deveriam prever até quando os portugueses e os europeus daqueles países que agora designam por periféricos da zona euro terão paciência para suportar tanta injustiça, corrupção e oportunismo.