Os jovens que hoje procuram o primeiro emprego é a primeira geração sem direitos filha da última geração que abusou dos direitos que ao longo dos anos multiplicou e que institucionalizou como direitos adquiridos, é a primeira geração atirada para a selva que resulta de uma combinação entre um Estado Social alimentado por impostos excessivos com um liberalismo oportunista alimentado por gente sem escrúpulos.
Já aqui dediquei muitos posts a este tema, alertei para a herança que o país estava a deixar aos mais jovens, uma imensidão de dívidas que serviram para financiar os abusos de uma geração instalada que se serviu do poder, protestei contra o oportunismo que grassa nalgumas profissões onde jovens licenciados ganham menos que uma empregada doméstica, nalguns casos em escritórios de advogados pertencentes a alguns dos chamados “senadores” que se passeiam diariamente na comunicação social e denunciei a má qualidade de muitos cursos ditos superiores que só servem para pagar a professores.
O país tem um grave problema que dificilmente conseguirá resolver, temos dezenas de milhares de jovens que nunca terão uma hipótese de encontrar um emprego relacionado com o que estudaram, ou porque tiraram cursos sem grande credibilidade, ou porque as universidades multiplicaram alguns cursos para os quais não há saídas profissionais. Assistiu-se à multiplicação de universidades sem qualidade, lançadas por gente oportunista que formou dezenas de milhares de jovens nos cursos fáceis inundando o mercado com milhares de licenciados muitas vezes mal preparados.
Num país onde a lei do menor esforço se combinou com um conceito de escola onde o objectivo de ensinar parece estar em conflito com as ambições profissionais dos professores transformou-se a matemática numa barreira intransponível para a maior parte dos estudantes. O resultado está à vista, uma invasão de licenciados em direito, relações internacionais e cursos de gestão da treta que nunca terão emprego e que chegam aos trinta anos sem experiência profissional e sem quaisquer qualificação profissional.
É evidente que há mais factores a ter em conta, como o perfil das nossas empresas que tende a dispensar a gestão qualificada, a generalização da precariedade que permite a muitas empresas (como as consultoras) para usar a saída das universidades pare garantir salários baixos, o baixo crescimento económico, a falta de apoios à criação de empresas, a quase inexistência de capitais de risco pois a banca prefere usar as suas disponibilidades para financiar o consumo a juros elevadíssimos.
O facto é que a sociedade portuguesa enfrenta um problema gravíssimo, toda uma geração que se qualificou e que não encontrou emprego compatível com as suas qualificações. Ao fim de alguns anos as suas qualificações sofrerão a erosão dos tempos e a concorrência de novos licenciados e é muito pouco provável que venha a encontrar emprego. Isto é, teremos muitos portugueses em que o Estado e as famílias investiram grandes recursos que será rejeitada pelo mercado de trabalho, não são considerados por quem procura licenciados nem têm aptidões profissionais para encontrarem outras saídas profissionais.
Pagarão caro as asneiras que o país e as famílias cometeram na sua formação, terão de sobreviver numa sociedade onde as regras deram lugar às leis do mercado globalizado e, como se isso fosse pouco, ainda vão ter de pagar as dívidas que as gerações que os antecederam lhes deixaram.