terça-feira, fevereiro 22, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Pernilongo [Himantopus himantopus], Castro Marim

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

"Belo em dia feito" [A. Cabral]

JUMENTO DO DIA

Emanuel dos Santos, secretário de Estado do Orçamento

Emanuel dos Santos, secretário de Estado do Orçamento parece ter ficado eufórico com um aumento de 11,1% das receitas fiscais no primeiro mês do ano. Ao que se deve a euforia do governante, a uma melhoria da eficácia na máquina fiscal ou ao sucesso no combate à evasão fiscal? Não, isso é coisa que não preocupa o governo, a euforia deve-se ao facto de os portugueses que costumam ser cumpridores terem sido obrigado a pagar ainda mais impostos.

Do ponto de vista da contas públicas estes números são simpáticos porque ajudam a arredar o FMI, o inimigo público número um de José Sócrates. Mas esta abordagem revela que para o governo bandeiras como a equidade, a justiça fiscal e o combate à fraude e evasão fiscais estão devidamente embrulhadas e conservadas com bolas de naftalina.

«O Estado arrecadou, em Janeiro, 2,79 mil milhões de euros, contra 2,4 mil milhões no mesmo mês do ano passado, o que revela, de acordo com o comunicado de imprensa do Ministério das Finanças, um grau de execução de 8,3 por cento, quando no ano passado este valor estava nos 7,8 por cento.

A receita proveniente do IRS subiu mais de 76,4 milhões de euros, o equivalente a 8,7 por cento, para 954,4 milhões de euros, influenciada pelas medidas legislativas de austeridade. O mesmo acontece, aliás, com a cobrança de IRC, que por via da antecipação de dividendos das empresas de forma a evitarem as regras mais apertadas em Janeiro, rendeu ao Estado um aumento de 153,4 por cento, de 81,3 milhões para 206 milhões de euros.

Na parte referente aos impostos directos, merece ainda destaque o aumento da rubrica 'Outros', na qual se inclui o regime excepcional de regularização tributária, que rendeu ao Estado 49 milhões de euros, o que representa uma variação de 9.700 por cento.» [DN]

NINGUÉM OUVIU O MERCEEIRO (2)

«Voltando à vaca fria, ou melhor, ao talhante. Porque esta era a questão - os talhantes que não aparecem num país onde grassa o desemprego... Ontem escrevi uma crónica sobre as palavras de um especialista - Alexandre Soares dos Santos, patrão do Pingo Doce - que procurava talhantes e não os encontrava. Ele disse isso e foi o silêncio (preferiu-se fazer chicana). Eu expliquei, bem explicadinho: Soares dos Santos é um merceeiro com provas mais do que dadas, por que não ouvi-lo sobre uma questão, talhantes, de que ele percebe? O que fui dizer, "merceeiro"! Em 1959, o mítico programa televisivo Cinq colonnes à la une deu este título ao pai dos supermercados e hipermercados franceses: "O merceeiro de Landerneau". Édouard Leclerc não se esquecia que era o que sempre foi quando começou como épicier (merceeiro) na pequena vila bretã (hoje, E. Leclerc é a principal marca de distribuição em França). Mas isso é em França, não é no Portugal dos pequeninos. Merceeiro... O Pingo Doce entra-me todos os dias em casa de forma coloquial e simpática - olhem, como uma mercearia. Pois eu devolvo-lhe a delicadeza, tratando o patrão dele da maneira que merece: respeitando-o. Um merceeiro falando do que sabe. Soares dos Santos fez uma acusação gravíssima e justa ao sistema educativo deste e de todos Governos precedentes: Portugal não forma talhantes. E disso, insisto, não se falou. » [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.

ARMANDO VARA: O "PENETRADOR" IMPLACÁVEL

«Estão certamente recordados da mítica novela Roque Santeiro que marcou gerações. Novela em que o professor Astromar entrava no gabinete ou em casa do "Prefeito Florindo Abelha", a quem galava a filha Mocinha, e fazia sempre a mesma pergunta: "posso penetrar?". A resposta de Florindo ou da sua esposa Pombinha variava entre o "já penetrou professor" e o "Penetre professor... Penetre".

Pois é, o senhor Armando vara é uma espécie de professor Astromar dos centros de saúde, com a diferença de não se transformar em lobisomem em dias de lua cheia (pelo menos não há relatos de que tal aconteça) e visivelmente menos educado e civilizado do que Astromar, na sua versão normal ou peluda, já que este normalmente quando queria penetrar perguntava se podia, senão leia-se:

"Armando Vara provocou esta quinta-feira um escândalo num centro de saúde de Lisboa. O ex-ministro socialista apareceu de surpresa, passou à frente de todos os doentes e deu ordens a uma médica para lhe passar um atestado." TVI

Ou seja, Armando vara é enquanto cidadão aquilo que foi sempre enquanto político, chegando mesmo a ministro desta coisinha pseudo-socialista a que alguns insistem em chamar governo, penetrando tudo o que podia à passagem, sem contemplações. E provavelmente por esse mesmo tipo de penetrações encontra-se a ser julgado no processo Face Oculta, acusado de três crimes de tráfico de influência.» [Expresso]

Autor:

Tiago Mesquita.

SÓCRATES ATRIBUI O MÉRITO AOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

«"Em apenas cinco anos nós mudámos a face da administração pública, em termos electrónicos passámos de um modesto lugar, abaixo das médias europeias, para a liderança do Governo electrónico em termos de disponibilização dos serviços públicos 'online' e de sofisticação dos serviços, qualquer que seja o ângulo pelo qual se analise o ranking, não há dúvida que em Portugal obtivemos uma liderança absolutamente incontestável", disse.

O chefe do Governo falava durante a apresentação do relatório europeu sobre serviços públicos electrónicos, que coloca Portugal em primeiro lugar pelo segundo ano consecutivo, e deu todo o mérito aos funcionários públicos: "Porque foram eles que deram o contributo para esta mudança, este primeiro lugar que obtivemos é da administração pública, dos funcionários públicos", afirmou Sócrates.» [DN]

Parecer:

Esta é uma má notícia, se no ano passado fomos os melhores e Sócrates cortou 10% nos vencimentos, para o ano é certo e sabido que o prémio será um corte de 20%.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Mande-se o prémio à fava ou que fique na prateleira de Sócrates devidamente emoldurado com o oE de 2011.»

O EMBAIXADOR DA MADEIRA NA AR QUER QUEDA DO GOVERNO

«Em declarações à agência Lusa, o deputado considerou que num cenário de incumprimento da execução orçamental e do aumento dos juros da dívida pública, que conduza a uma "intervenção externa", verifica-se "uma perda objectiva de condições para o Governo continuar".

"Se se confirmar a sua incapacidade para ultrapassar a situação, o último gesto que se espera do Eng. Sócrates é que reconheça a sua incapacidade para se manter à frente dos destinos do país. Se não o fizer, naturalmente a direcção do PSD terá soluções para conseguir essa mudança", afirmou, à semelhança do que já foi defendido por outras figura do PSD.» [DN]

Parecer:

Este Guilherme Silva já enjoa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Guilherme Silva se ainda é assessor do governo regional.»

CRIANÇA SOBREVIVEU AO ABUTRE, SOTÓGRAFO SUCUMBIU À DOR

«O fotógrafo sucumbiu ao arrependimento e suicidou-se. A opinião pública crucificou Kevin Carter, mas, 18 anos volvidos, sabe-se que a criança que parece prestar-se a servir de pasto ao abutre sobreviveu à fome e à guerra no Sudão.

Kevin Carter disparou, em 1993, no Sudão, a foto que lhe viria a custar a vida, paradoxalmente, eternizando o fotógrafo sul-africano na galeria dos maiores repórteres fotográficos de sempre, com um "frame" icónico, um retrato de uma tragédia que não precisa de uma sílaba sequer.

Quando fotografou aquela cena, em Ayod, no Sudão, em 1993, Kavin Carter terá visto, como quase toda a gente, na imagem de um abutre postado atrás de uma criança desnutrida, a metáfora perfeita para a fome que grassava, e matava, no Sudão.

Disparou e pouco depois entrou no avião. O New York Times publicou a foto, que em 1994 viria a ganhar o prestigiado prémio Pulitzer. Kevin Carter não suportou a glória de uma imagem que lhe recordaria a sua própria mortalidade, a sua própria face humana, que naquela tarde de 1993, no Sudão, se deixou dominar pelo brio profissional de capturar a imagem que melhor demonstrasse a tragédia que varria o Sudão. Conseguiu-o.

O Mundo viu, nessa foto, a morte e a fome, a morte pela fome. A opinião pública apressou-se a julgar e a condenar sumariamente a alegada frieza com que teria agido Kevin Carter, considerando que o fotógrafo poderia, e deveria, ter feito alguma coisa para salvar a criança. Kevin sentiu o mesmo e foi essa dor que o levou a pôr termo à própria vida, incapaz de suportar a ideia de não ter ajudado a salvar uma vida.

Crianças do Japão sentiram a mensagem da foto

No rescaldo do Pulitzer, nem todos se apressaram a condenar a postura do repórter perante a situação que o catapultou para a fama. No dia em que colocou termo à vida, chegavam à casa dos pais de Carter um maço de cartas escritas provenientes do Japão onde um grupo de crianças da escola de Arakawa Ward, em Tóquio, explicavam como a foto do abutre as havia tocado.

Alguns excertos das cartas acabariam por ser lidas no funeral de Kevin Carter: "se eu for apanhado numa situação difícil, vou lembrar-me da sua foto e tentar ultrapassar a situação"; "Até agora fui uma pessoa egoísta"; "Eu tiraria a foto com as mãos a tremer", podia ler-se nas várias missivas.

A história seguinte de Carter é a de uma talvez infundada má consciência que o atirou para um consumo compulsivo de drogas, segundo o relato de dois amigos, Greg Marinovich e João Silva que, juntamente com o próprio Kevin e Ken Oosterbroek constituíram o famoso "Bang Bang Club", um grupo de fotógrafos baseados em Joanesburgo que revelaram ao mundo a brutalidade do apartheid sul africano.

João Silva, o fotógrafo português radicado na África do Sul que, ao serviço do New York Times cobriu as principais guerras da ultima década tendo ficado gravemente ferido (perdeu as pernas) ao pisar uma mina no Afeganistão em Outubro do ano passado, foi o destinatário da carta deixada por Kevin aquando do suicídio. A carta, conta João, "era enraivecida". Nela, explica, Kevin justificava o recurso às drogas como "recurso fácil para a dor que sentia".

Afinal, sabe-se agora, não precisava de ajudar aquela criança, que estava a ser ajudada pela ONU. Conta o El Mundo, que a própria imagem ajuda a contar a história desconhecida, até agora, de Kong Nyong, a criança que escapou ao abutre e fintou a fome e a vida de Kevin Carter.

Na mão direita da criança vê-se uma pulseira de plástico da ajuda alimentar da ONU. Ampliando a foto, pode ver-se inscrita a sigla "T3".

"Usavam-se duas letras: "T" para a malnutrição severa e "S" para os que só necessitavam de alimentação suplementar. O número indica a ordem de chegada ao centro alimentar", contou Florence Mourin, que coordenava os trabalhos naquela campo improvisado de ajuda alimentar.
Feita explicação, a história, embora dura, parece mais linear: Kong Nyong sofria de malnutrição severa, foi o terceiro a chegar àquele centro e estava a receber ajuda. Sobreviveu à fome e evitou o abutre. Segundo o pai, morreu há quatro anos, em 2006, jovem adulto, vítima "de febres", não de fome. Kevin Carter é que já não está cá para testemunhar esta descoberta dos repórteres do El Mundo. »
[JN]

ALBA

CANCER SOCIETY OF FINLAND