Em tempos defendi aqui a remodelação do governo mas começo a reconhecer que tal não faz sentido, Sócrates é cada vez mais o “one man show” do governo, uma boa parte dos seus ministros são mantidos quase no anonimato, quanto a secretários de Estado até ficamos com a impressão de que nem tomaram posse.
O mundo atravessa uma crise de preços nas matérias-primas agrícolas e do ministro da Agricultura temos a leve impressão de que se chama Serrano, o governo aposta nas exportações mas o ministro da Economia só aparece de vez em quando para falar das taxas de juro, taxas de que o ministro das Finanças já não comenta pois quase desapareceu. O ministro dos Negócios Estrangeiros eclipsou-se a seguir à cimeira da NATO, o da Administração Interna só aparece porque alguém tem de dizer que os responsáveis pelas suas asneiras são os directores-gerais e os fabricantes de blindados, a ministra da Educação surge de vez em quando para dar a cara pelas cedências que tem vindo a fazer, até Silva Pereira aparece cada vez menos.
O país tem um problema com a dívida soberana? Sócrates pega no avião e vai vendê-la. O país tem um problema com as exportações? Sócrates segue viagem em busca de contratos. Sócrates está convencido de que as eleições legislativas estão cada vez mais reduzidas à escolha do primeiro-ministro e desvaloriza cada vez mais o papel do governo, é ele que vai a eleições e, portanto, é ele que deve dar a cara.
Nestas condições pouco importa se os ministros são competentes ou não, o que fazem no dia a dia quase nem é notícia, o governo é José Sócrates. Pouco importa o programa eleitoral apresentado nas eleições e muito menos o programa de governo aprovado no parlamento, o que conta mesmo é a agenda do dia e essa é determinada pelo primeiro-ministro.
Mas será isto um tique associado à personalidade de José Sócrates? Duvido, o CDS é cada vez mais Paulo Portas, o PSD está a ser reduzido ao líder de serviço, no BE só conta Louçã que comporta como o farol luminoso da esquerda moderna, por incrível que pareça a excepção é o PCP onde desde a morte de Álvaro Cunhal o comité central tem um papel dominante nas suas decisões.
O país político é cada vez mais um palco de artistas de solo não fazendo sentido falar de remodelações do governo porque muito simplesmente este não existe. Os ministros não passam de figuras secundárias que só ocasionalmente saem dos bastidores e aparecem em palco, não passam de artistas secundários ou mesmo de meros ajudantes, como aderecistas ou outros profissionais dos bastidores do espectáculo.
Sócrates comete um erro grave, nestas condições os eleitores em vez de se contentarem com uma mudança de alguns artistas podem fartar-se do espectáculo.