Imaginem agora que eu dizia à senhora Merkel que o país ficou à beira de uma crise política porque um líder trotskista tinha apresentado uma moção de censura só para passar a perna aos estalinistas. Coitada da senhora, perdia a vontade de rir e o mais certo seria perguntar-me sobre qual a posição tomada pelos seus parceiros políticos locais, os do partido liberal que se diz democrata cristão e os do outro partido também liberal que anda há trinta anos a convencer-se de que é social-democrata. Nessa altura ficaria na dúvida sobe o que responder, a senhora já não é propriamente uma gaiata e os acontecimentos lusos não justificam um baque cardíaco da chanceler alemã.
Mas imaginem ainda que eu me lembrava de dizer à senhora que os do CDS ainda iam reflectir e que os do PPD estão divididos entre os que votam qualquer moção de censura, nem que seja apresentada pelo diabo, e os que defendem reflexão. Coitada da senhora, começaria a berrar comigo dizendo que não andava a empatar dinheiro no fundo de estabilização para a direita portuguesa andar a brincar.
Eu não quero mal nenhum à senhora Merkel, antes pelo contrário, mas se a quisesse matar dir-lhe-ia o que António Nogueira Leite disse aos jornais, que o PSD “"conhecer exactamente" o contexto em que o Bloco de Esquerda vai lançar a moção de censura e depois, "com frieza e consciência", tomar uma decisão”. O quê, um provável ministro das Finanças de um partido irmão da direita portuguesa a achar que a moção apresentada por um trotsquista pode ter ter fundamentos para um voto da direita? Um economista a achar que o país pode brincar às crises políticas, agora com um mês de antecedência, enquanto a economia se pode afundar no mercado financeiro?
Não senhora Merkel, esteja descansada, em Portugal ninguém é doido, os partidos da direita são tão responsáveis como os da Alemanha e nunca aceitarão juntar-se aos trotsquisas, os candidatos a ministros das Finanças não são doidos ao ponto de acharem que um país em crise não pode andar desgovernado durante cinco meses (um até mais à moção de censura, mais quatro até à aprovação do programa de um futuro governo saído de eleições antecipadas).
Fique descansada, estava só a brincar, em Portugal doidos só são os que estão no Júlio de Matos.