A actuação do ministro das Finanças lembra-me uma velha anedota que como costume por estas bandas usa uma personagem alentejana. Passo a contar, era um alentejano que certa vez foi convidado a voar num avião de acrobacias, no fim do passeio contou a sua experiência: “Quando o avião subiu para cima já estava à espera de me mijar, quando desceu a pique já estava à espera de me cagar, o que não esperava era que o avião desse a volta e a merda me caísse em cima!”.
Quando o nosso ministro se esqueceu de controlar a despesa já estava à espera de que o défice aumentasse, quando não se preocupou muito com a gestão do fisco já estava à espera de que a receita caísse, o que ele não esperava era que viesse a instabilidade dos mercados e tivesse de suportar as consequências do que fez antes.
Os esforço desesperado feito por José Sócrates e Teixeira dos Santos para conseguir vender a dívida portuguesa foi notável, mas não seria necessário se o nosso ministro tivesse feito as contas a tempo e fosse capaz de prever o que era evidente, que uma economia com uma dívida soberana quase equivalente ao PIB e um crescimento deste quase nulo estaria numa situação de grande vulnerabilidade.
O esforço de Sócrates para promover as exportações merece elogios mas se o ministro das Finanças o tivesse alertado para o desequilíbrio externo crescente e em vez de andar a promover infra-estruturas para o turismo interno investisse na exportação talvez agora a situação não fosse tão grave.
Não é por acaso que uma boa parte dos cursos de economia são dedicados a cadeiras relacionadas com a compreensão dos modelos económicos e com a previsão. Os cursos de economia são um pouco como os de meteorologia, ajudam a perceber o clima mas a sua grande utilidade é para prever as tempestades. De nada serve passarmos o tempo a ouvirmos grandes economistas dizerem que a nossa situação económica é grave, no ponto e qu estamos qualquer dona de casa com a quarta classe é capaz de o fazer, tal como uma vez o falecido Salgado Zenha disse que se apercebeu de como as coisas estavam caras num dia em que foi ao mercado com a esposa.
De um economista e muito mais ainda de um ministro das Finanças espera-se que tenha capacidade para prever a crise e antecipar-se. Ora, a actual situação da economia portuguesa é um daqueles temporais cuja aproximação é visível na linha do horizonte, qualquer estudante do primeiro ano do curso de economia, até da antiga universidade Independente, era capaz de prever a actual situação.
Por isso é quase ridículo ver Teixeira dos Santos falar da actual crise alertando para os muitos meses difíceis que virão, como se fosse um socorrista no meio das ruínas provocadas por um terramoto inesperado, o ministro é em grande parte responsável pelo que se está a passar pois está no cargo há cinco anos, não pode vir agora dizer como o nosso amigo alentejano que não estava à espera de uma cambalhota e de a merda lhe cair em cima.