domingo, fevereiro 13, 2011

Semanada

Rui Pereira, ministro da Administração Interna, está acima de qualquer responsabilidade, na sua qualidade de ministro tem à sua disposição os directores-geriais que servem precisamente para serem demitidos e enxovalhados em público para salvar a honra dos ministros e secretários de Estado. Feito o inquérito para esclarecer as responsabilidades na trapalhada eleitoral o ministro tardou dias a tornar público o relatório, tempo suficiente para mandar dicas para a comunicação social sugerindo as culpas era do “pessoal menor”. Só que Rui Pereira cometeu um pecado original, ao nomear ou reconduzir um director-geral por ser da sua confiança política tornou-se politicamente responsável pelas consequências dos actos do seu subordinado de confiança. Na hora em que atribuiu culpas ao director-geral deveria ter apresentado o seu pedido de demissão. Aliás, depois da trapalhada dos blindados o ministro já deveria ter sido demitido.

Depois de meses de grande protagonismo o ministro das Finanças desapareceu, diria mesmo que quanto maior é a taxa de juro da dívida portuguesa no mercado secundário maior é a invisibilidade de Teixeira dos Santos. Como a taxa já está bem acima da fasquia dos 7%, que ele considerou como o limite a partir do qual Portugal deveria ter pedido ajuda ao FMI, o ministro transformou-se num ministro invisível. Com o seu desaparecimento Teixeira dos Santos não impede que as taxas de juro subam, mas, pelo menos, consegui que nunca mais se falasse da sua substituição no governo. Digamos que ministro invisível não é remodelável.

Louçã apresentou a mais original das moções de censura, uma moção que visa derrubar simultaneamente o primeiro-ministro e o líder da oposição e para que não houvessem dúvidas o seu número dois veio pedir ao PSD para votar contra a moção. Quem se deve ter sentido orgulhoso com este inesperado pupilo político é Cavaco Silva, ao agendar a moção para o primeiro dia em que o Presidente retoma o seu poder para dissolver o parlamento o promotor da candidatura do seu rival Manuel Alegre presta-lhe uma homenagem pela sua vitória presidencial oferecendo-lhe a cabeça de Sócrates numa bandeja de fast-food.

A moção de censura desencadeou uma orgia de politiquice onde os diversos grupos estão mais interessados em rasteirar o parceiro e obter ganhos do que em discutir a própria moção que nem sequer existe. Como o país está para brincadeiras todos decidiram brincar com os portugueses que sofrem das consequências da crise a que os nossos políticos estão imunes. A direita chega ao ridículo de prometer reflexões sobre os argumentos da extrema esquerda, mas não exige ao grande líder Louçã que os exponha, dizem apenas que vão reflectir. Este informa que a moção é contra a direita e o único argumento que encontra é o que em Portugal há tanta desigualdade quanto no Egipto, se a revolta tivesse sido no Burkina Faso está-se mesmo a ver que este país seria o termo de comparação. Sócrates gozou com o BE a agora aponta para o PSD como se tivesse sido este a encomendar a moção de censura. Jerónimo de Sousa, a quem Louçã passou a perna, diz que talvez apresente outra moção de censura como se estivesse a dizer a Louçã que “a minha moção é melhor do que a tua”. Um dia deste será o povo português a aprovar por maioria e aclamação uma moção de censura contra toda esta classe política idiota, irresponsável e anda a brincar com o país.

O país ficou espantado ao saber que uma idosa morreu em casa e durante sete anos as autoridades se recusaram a entrar em casa com o argumento de que se não cheirava mal ela não tinha morrido. Uma amiga e um familiar foram à GNR e ao Ministério Público durante quase uma década e ninguém fez nada, não se deu ao trabalho de arrombar uma porta por causa dos pruridos legais. Quem não teve pruridos foi a DGCI que executou uma dívida da falecida, vendeu-lhe a casa e autorizou a nova dona a arrombar a porta. Conclusão, a melhor forma de alguém que desapareceu neste país ser encontrado é ter uma dívida ao fisco, a não ser obviamente que deixe de tomar banho. A partir de agora cabe à DGCI procurar os que não cheiram mal e às autoridades policiais e Ministério Público encontrar os que não mudam as peúgas.