Pelos documentos disponibilizados pela Wikileaks ao semanário Expresso ficámos a saber a opinião da embaixada dos EUA sobre o negócio dos submarinos e a mentalidade dos nossos generais e almirantes, gente que está mais preocupada em ter gadgets militares do que com a protecção dos interesses do país. É evidente que almirante que se digne gosta mais de uma recepção a bordo de uma grande fragata ou de um submarino (o ideal seria um porta-aviões mas isso já seria abusar) do que num mero navio-patrulha, até porque estes pequenos navios não tem guarnição que possibilitasse uma guarda de honra à altura de tão distintas personalidades, nem sequer têm refeitório exclusivo para oficiais e muito menos pratos de porcelana e talheres com banhos de prata, indispensáveis para o estômago sensível do nosso almirantado de batalhas navais na piscina.
O problema da mentalidade dos nossos generais (como eles incham quando andam em Mercedes pretos conduzidos por grumetes…), mas sim de alguns grupos de profissionais que não dispensam o penacho, sejam fardas com muitos dourados ou vestes cerimoniais em preto. Temos um país cheio de comandantes, generais, reverendíssimos, meritíssimos e outros vaidosos que esquecem que são os contribuintes que lhes dão de comer e lhes satisfazem as pequenas vaidades e rapidamente se convencem de que é o país que os deve servir e alimentar a sua vaidade em vez de serem eles a usar os poderes que têm para estarem ao serviço dos seus concidadãos.
Temos que beijar o anel do bispo, bater a pala com grande rigor ao almirante e quando nos dirigimos a um juiz devemos tratá-lo por meritíssimo e olhando para o chão, tratando com o mesmo temor e submissão com que um rafeiro faz com o seu dono. Esta gente usam o poder que tem, matar, mandar para o inferno ou enfiar na prisão, como símbolo da sua superioridade humana. Não devemos respeitar o almirante porque ele está disposto a dar a vida pelo país mas porque nos pode ameaçar com as suas armas, não devemos respeitar o juiz porque confiámos nas suas mãos o exercício da justiça mas porque nos pode meter arbitrariamente na prisão e depois é uma via sacra de recursos até nos livrarmos das consequências da sua prepotência.
Da mesma forma que os nossos almirantes estavam danadinhos por terem grandes fragatas e submarinos, os nossos magistrados acham que um corte nos seus rendimentos ou salas de audiências menos luxuosas retiram dignidade à sua função, é como os nossos cardeais que há muito esperam que o Estado os ajude a construir uma nova sé catedral em Lisboa.