segunda-feira, fevereiro 21, 2011

FMI


Nunca se falou tanto do FMI e não há português que não opine sobre as vantagens ou desvantagens de um pedido de ajuda, desde o merceeiro da minha rua ao merceeiro do Pingo Doce todos vão tomando posição. Só que por aquilo que se vai ouvindo há mais do que uma abordagem do problema.

Há a abordagem dos economistas defendida com clareza por Teodora Cardoso, recorrendo ao FMI Portugal estaria a pagar juros mais baixos do que aqueles que está a suportar recorrendo aos mercados. Esta abordagem tem vindo a ser contestada pelas realidades da Grécia e da Irlanda e omite que há um problema europeu que deve ser resolvido em vez de se deixar cada estado-membro entregue a si próprio. Do recurso ao FMI resultaria o financiamento parcial da dívida soberana portuguesa e ninguém garante que os mercados deixassem de pressionar no sentido de serem cobrados juros elevados, como sucede com a Grécia e a Irlanda.

Independentemente dos desvarios financeiros de alguns estados-membros é hoje evidente que a zona do euro é uma selva onde vencem os mais fortes que, por sua vez, têm todo o interesse em deixar os mais fracos entregues à sua sorte pois uma boa parte dos juros elevados que estes estão suportando revertem a favor de investidores desses países. O euro é uma zona monetária desregulamentada em que os grandes apenas equacionam a hipótese de intervir se os seus próprios interesses estiverem em causa. Nestas circunstâncias o recurso ao FMI por parte de Portugal ou mesmo da Espanha apenas serviria para tranquilizar os que mais ganham com o euro.

Para além de uma abordagem economicista e de uma abordagem europeia do problema há uma terceira que resulta da forma manhosa como o governo adoptou medidas de austeridade, concentrando a maior parte dos sacrifícios num grupo profissional onde julga não ter muitos votos a perder. Isto é, tal como já aqui defendi as medias de austeridade que o FMI proporiam poderiam ser mais duras e inflexíveis do que as adoptadas por Sócrates e Pedro Passos Coelho, mas seria mais equitativas pois os técnicos do FMI não as adoptariam a pensar no seu impacto eleitoral, como sucedeu com as medidas do OE de 2011.

Daqui resulta que o debate em torno de um pedido de ajuda ao FMI está inquinado por estratégias condicionadas por interesses de grupos e em função dos sacrifícios que cada um receia vir a sofrer. É por isso que vemos Soares do Santos a defender a vinda do FMI contra a opinião de Ricardo Salgado, é pelo mesmos motivos que os países ricos da Europa se opõem a uma intervenção europeia nos mercado contra o que defende Sócrates.

A questão do FMI não está a ser discutida em função de todos os portugueses mas sim tendo em conta os interesses económicos de alguns grupos de pressão e os objectivos eleitorais de Sócrates e Pedro Passos Coelho. No meio estão os que foram e irão ser sacrificados em nome destas estratégias.