Quando se fala em investimento privado aparecem logo grandes ideias e projectos, empresas tecnológicas, grandiosos projectos nas energias renováveis, obras públicas faraónicas, fábricas de automóveis, etc., etc.. Tudo isso é necessário e nalguns casos estratégico, mas a economia não é feita apenas de grandes projectos com direito a encenações acompanhadas de croquetes e vinho de região demarcada cada vez que se lança uma pedra. E em muitos casos estes projectos traduzem-se em mobilidade de emprego ou no recurso a emigrantes.
Além disso, muitos destes grandiosos projectos que prometem algumas centenas de empregos levarão muitos meses, senão mesmo alguns anos a serem concretizados, têm custos elevadíssimos em contrapartidas como benefícios fiscais e subsídios e exigem mão-de-obra qualificada, muito provavelmente a que menos carece de emprego. Uma boa parte dos nossos desempregados são mulheres e trabalhadores com alguma idade, ainda ontem as notícias davam conta de que o aumento do desemprego nos últimos meses atingiu precisamente as mulheres.
Basta ver a quantidade de lojas, restaurantes e outros pequenos negócios que todos os dias fecham nas nossas cidades, as PME que encerram ou as explorações agrícolas que são abandonadas para se perceber uma boa parte dos nossos desempregados apenas poderão beneficiar indirectamente da criação de emprego mais qualificado, isto é quando a economia recuperar e na hipótese pouco provável desses pequenos negócios reabrirem.
É evidente que não estou a defender que se deve deixar de apostar em sectores que serão indispensáveis para que a nossa economia atinjam níveis que de desenvolvimento que o tipos de indústrias em que se apostou no passado. Mas discordo do desprezo quase colectivo pelas pequenas iniciativas de emprego. Concordo que se encham aviões de empresários em busca de compradores dos nossos produtos e de investidores, mas penso que os gabinetes governamentais deveriam abrir as suas portas aos pequenos investidores e os ministros deveriam arregaçar mais as mangas e aproveitar todas as oportunidades de criar empregos.
A realidade dos desemprego não é única e corre-se um sério risco de o esforço feito pelo Estado para estimular o investimento e o desemprego deixar de fora grupos importantes de desempregados, como é o caso dos trabalhadores menos qualificados e dos jovens licenciados. Uns tornar-se-ão desempregados crónicos e os outros ou emigram ou com o tempo verão as suas qualificações sofrer uma forte erosão em resultado da falta de experiência e da saída de novas gerações de licenciados das universidades.