Há dois ou três anos os preços dos cereais subiram exponencialmente conduzindo a aumentos de preços dos produtos alimentares como o pão, as carnes, ovos e produtos lácteos, a Argentina que é um tradicional exportador de carnes proibiu a sua exportação e houve escassez de alguns produtos no mercado mundial. No passado mês de Dezembro um pequeno incidente relacionado com a qualidade de um lote de açúcar colocado nas prateleiras de uma grande rede de supermercados conduziu a uma pequena crise de abastecimento que levou semanas a superar. As notícias sobre o aumento das cotações das matérias-primas agrícolas têm-se sucedido, depois dos cereais foi a vez do açúcar.
É evidente que os mercados de matérias-primas agrícolas são cada vez mais vulneráveis, qualquer situação que afecte a produção desencadeia uma alta de preços. Para isso concorrem o aumento exponencial na procura de bens alimentares das economias emergentes que no seu conjunto representam uma boa parte da população mundial, o aumento das terras aráveis dedicadas à produção de matéria prima para a produção de biocombustível e, no caso Europeu, a própria reforma da PAC.
Portugal depende cada vez mais da importação de bens alimentares, a produção agrícola não se modernizou, muitas terras aráveis foram abandonadas inicialmente porque não atingiam os padrões de rentabilidade subjacente ao sistema de preços agrícolas e depois em consequência de reformas da PAC que visaram a redução da produção de excedentes. Para além da riqueza que o país perde ao importar quase tudo o que consome está cada vez mais vulnerável a uma crise internacional no sector e é muito duvidoso que numa situação de crise existam stocks comunitários suficientes para responder às necessidades dos países mais deficitários. Da mesma forma que agora a senhora Merkel nos dá ordens em matéria de dívida soberana arriscamo-nos a que um dia destes a chanceler alemã no venha dizer que se queremos comer alfaces temos que as plantar, como fazem os alemães.
O país anda tão ocupado em cortar vencimentos, em exportar produtos transaccionáveis e em discutir moções de censura que muitos dos seus problemas são esquecidos, como é o caso da agricultura. Alguém sabe como se chama o ministro da Agricultura? Consigo enumerar todos os ministros dos últimos trinta anos e uma boa parte dos secretários de Estado da Alimentação, mas do actual não faço a mínima ideia de como se chama. Sei quem é o secretário de Estado da Alimentação que já tem quase tantos anos de governo como o Cavaco Silva, mas mesmo com toda essa experiência não lhe confiaria a gestão de um lagar de azeite.
Se ocorrer uma crise de abastecimento de produtos alimentares o país terá graves problemas, não tem produção, não tem stocks e não tenho a certeza de que tenha capacidade política para responder à situação como, aliás, se viu com o simulacro de crise de abastecimento de açúcar.