quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Guincho-comum [Larus ridibundus], Terreiro do Paço, Lisboa

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

Colhereiro [Platalea leucorodia] no sapal do Montijo [por A. Cabral]

JUMENTO DO DIA

Luís Filipe Menezes, autarca de Gaia

Como não tem nenhuma portagem em Gaia o autarca manifesta solidariedade com o Algarve e mostra-se preocupado com os turistas que usam a Via do Infante à borla. É caso para perguntar se o autarca está disposto a prescindir de parte das receitas do município para cobrir as borlas na A22.

«"Manifestamente vai prejudicar o turismo e as actividades económicas em geral que estão sedeadas no Algarve", disse o autarca, à margem de uma visita realizada hoje de manhã às obras a decorrer na A41 e A32 que pertencem à concessão rodoviária Douro Litoral. As fundações para instalar os pórticos na A22, no Algarve, já começaram a ser construídas, apesar de ainda decorrerem negociações para tentar adiar o início da cobrança de portagens na Via do Infante. "O governo queria só portajar a Área Metropolitana do Porto e o que foi dito pelo maior partido da oposição é que 'ou se portajam todos ou não se portaja ninguém'. Parece-me justo, embora existam algumas situações que eventualmente mereceriam alguma ponderação", salientou.» [DN]

EUROPA COMO BARATA TONTA

«Antes, à esquerda, Zapatero dizia para se investir em Marrocos, Sócrates, na Líbia e, à direita, Berlusconi pactuava com Kadhafi e a ministra francesa dos Negócios Estrangeiros Alliot-Marie ia passar férias tunisinas no avião de um primo de Ben Ali. Esse antes foi ontem, há pouco mais de dois meses, ainda não se incendiara metade do mundo árabe. Nesse antes, ninguém viu vir a situação que acabou por chegar. O agora é aquela situação para a qual todos já têm uma explicação. A mais recente foi do primeiro-ministro David Cameron. Ontem, admitiu que a Europa apoiara os regimes autoritários para garantir a estabilidade. E concluiu: "Como os acontecimentos recentes confirmaram, negar às pessoas os seus direitos básicos não preserva a estabilidade, mas sim o inverso." Actos de contrição em políticos são raros, mas não nos embalemos na ingenuidade: Cameron estava no Kuwait, país onde foi vender armas, e falava no parlamento local, onde os deputados são eleitos por uma minoria da população (a maioria, imigrada, não tem direitos cívicos)... Tudo na mesma, portanto. O mais honesto, se calhar, é admitir que se está, hoje, como antes de a pacata Tunísia ter incendiado a rua árabe. Ontem não se adivinhou o que estava prestes a chegar, e agora ainda não temos explicação para o que se passa. A táctica já deu provas: só saber que nada sabe já ajudou o Ocidente a compreender muita coisa.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.

JANEIRO ERA PARA SÓCRATES O QUE DEZEMBRO ERA PARA O PAI NATAL

«Corrijo o erro: Portugal aparentava sobriedade mas o facto é que tem recaídas e consome às escondidas. A redução do défice em Janeiro foi conseguida, sobretudo, à conta das receitas, por via da tributação extraordinária dos dividendos e pela corrida à compra de carro que fez disparar os números do IVA e do ISV. Do lado da despesa, os números revelam um esforço mas não são empolgantes. Em síntese, a confiança passou por aqui mas de forma fugaz. Janeiro era para Sócrates o que Dezembro é para o Pai Natal: a consagração do próprio e paz no mundo e nos mercados. Mas, ainda não foi desta. O efeito de uma manchete no mais influente semanário do país dissipou-se em dois dias. A desconfiança dos mercados permanece. Com um Janeiro pouco convincente, será que Sócrates terá o Natal em Fevereiro? » [DE]

Autor:

Miguel Coutinho.

HAVERÁ FUTURO PARA A SOCIAL-DEMOCRACIA?

«Haverá futuro para a social-democracia, entendida como uma forma de organização política que atribui ao estado consideráveis responsabilidades na área social? Durante décadas, ela foi tão consensual no Ocidente que a questão nem se colocava; mas, nos últimos tempos, esse estatuto foi algo abalado.

Diz-se, por exemplo, que o estado social pressupõe uma carga fiscal incomportável, que a presente debilidade financeira dos estados impõe uma urgente inversão de rumo, que o envelhecimento da população tornou inviável o sistema de pensões, que o apoio aos desempregados prejudica a competitividade, que sairia mais barato transferir para o sector privado a saúde e a educação e que os poderes públicos deveriam concentrar-se nas suas funções essenciais de defesa e segurança.

O argumento económico contra o estado social não é, porém, muito forte. O Sistema Nacional de Saúde britânico surgiu quando o Reino Unido estava arruinado, não numa era de prosperidade - e o mesmo pode ser dito do New Deal americano. Os estados assumiram amplas funções sociais quando o seu rendimento per capita era bem menos de metade do actual, não se entendendo que nações muito mais prósperas não possam assegurá-las. Depois de um período inicial de rápido crescimento, o peso das despesas sociais no produto estabilizou ou reduziu-se mesmo. As soluções para fazer face ao envelhecimento das populações são politicamente difíceis, mas tecnicamente triviais. Por fim, a experiência demonstra que a provisão privada de serviços de saúde, ensino e transportes é, regra geral, mais cara e pior que a pública.

A sensação que fica do actual debate é que a animosidade contra a social-democracia se estriba menos em argumentos sólidos do que em preconceitos, indiferenças, recriminações e ódios sociais que não ousam dizer o seu nome. Quais serão então os problemas reais que ameaçam a sobrevivência do Estado Social?

O primeiro reside na frequente captura dos serviços sociais pelos agentes envolvidos na sua prestação, degradando-os e encarecendo-os. Na prática, é como se as escolas públicas estivessem ao serviço dos professores; os comboios, ao dos maquinistas; e os hospitais, ao do pessoal hospitalar. Naturalmente, isso reduz o apreço do cidadão pelos serviços sociais, ao constatarem que a retórica dos direitos foi apropriada por egoístas corporações profissionais.

O segundo resulta de uma parte crescente dos beneficiários mais pobres serem estrangeiros ou percebidos como tal - por vezes de outras etnias ou religiões - donde decorre uma menor identificação com os problemas dos destinatários da ajuda, tanto mais suspeitos de parasitismo quanto mais distinta for a sua cultura de origem. Recorrendo à elegante linguagem do Dr. Portas, os "ciganos do Rendimento Mínimo" são olhados como oportunistas que "comem os nossos impostos".

Em terceiro lugar, vivemos hoje em sociedades tribalizadas e fragmentadas, em que se diluíram sensivelmente não só o sentido de grupo social como mesmo o de nação. Ora a criação de sistemas de solidariedade públicos estribou-se num sentido de identidade partilhada envolvendo cidadãos com cultura e valores comuns, agora postos em causa. As pessoas hoje mobilizam-se para exigir o comboio do Tua, salvar o lince da Malcata ou apoiar uma consumidora maltratada pela Ensitel, mas desvalorizam a importância do voto e desinteressam-se de grandes causas nacionais.

Muito mais do que qualquer imaginária crise de sustentabilidade são essas circunstâncias que contribuem para minar o sentimento de solidariedade, encolher a base social de apoio do estado social e questionar a sua legitimidade. No seu último livro ("Ill Fares the Land", em português "Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos"), Tony Judt conclui que só a recordação de como eram cruéis as nossas sociedades antes da emergência da social-democracia permitirá impedir o seu desmantelamento. Mas é provável que uma atitude nostálgica, não enraizada no presente, a faça parecer ainda mais obsoleta.

Em vez de contemplarmos a social-democracia como um paraíso perdido, talvez devêssemos antes adoptar uma postura crítica orientada para a sua reforma. Convém recordar que a estatização da solidariedade, antes a cargo das famílias ou das instituições de socorro mútuo, veio excluir os cidadãos da sua gestão quotidiana e liquidar o instinto de cooperação. A universalidade transformou a protecção social num mecanismo automático de distribuição de benesses cujo funcionamento e custos não são entendidos pelas pessoas comuns. A generosidade foi superada pela reivindicação de direitos abstractos. Ora nada disto é bom.

O grande problema do estado social não é talvez a falta de dinheiro, mas a alienação dos cidadãos em relação aos seus propósitos e funcionamento - logo, é por aí que se deverá começar.

A boa notícia é que as tecnologias digitais disponibilizam-nos hoje instrumentos de cooperação que facilitam o envolvimento dos cidadãos na determinação dos objectivos dos programas sociais, na busca de soluções alternativas, na avaliação e selecção de projectos alternativos ou mesmo na co-criação de serviços de melhor qualidade. No decurso desse processo conseguiremos porventura tornar o estado mais democrático, empenhar os cidadãos na produção cooperativa de serviços públicos e, quem sabe, reinventar a social-democracia. » [Jornal de Negócios]

Autor:

João Pinto e Castro

REVISTA DA ORDEM DOS MÉDICOS OFENDE GAYS

«No artigo, intitulado ‘O sentido do sexo’, William Clode escreve que "a homossexualidade (...) é repudiada em todas as civilizações, mas tolerada nas mais evoluídas pois a humanidade aprende a respeitar os doentes, os defeituosos, os anormais, os portadores de taras (...)".

Clode diz que a homossexualidade "não é uma doença", mas fala de uma "aberração dos sentidos". A Ordem dos Médicos diz que "a Revista é um espaço aberto à pluralidade de opiniões". A associação ILGA diz que o "artigo não tem qualquer base científica". » [CM]

Parecer:

Este debate em torno da fundamentação científica da homossexualidade é um pouco ridículo, como é ridículo as associações gays tentarem calar tudo e todos os que discordem das suas opiniões.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»

PANCADA FEMININA NUM RESTAURANTE AMERICANO POR CAUSA DE PANQUECAS

«Um restaurante da cadeia Denny's, no estado norte-americano do Massachusetts, foi palco de uma cena de pancadaria entre três mulheres por causa de umas panquecas.

As mulheres envolveram-se na confusão porque, simplesmente, uma não quis passar o molho das panquecas a outra, que estava na mesa ao lado.» [DN]

A ÚLTIMA BATALHA DE ALJUBARROTA

«Na freguesia, mistura-se a descrença de que algum dia "venha a jorrar daqui alguma coisa" e a expectativa de que, se existir petróleo, "traga alguns benefícios para a freguesia, ao nível do desenvolvimento turístico e da criação de novos acesso", admite Amílcar Raimundo, presidente da Junta de Freguesia. Aquela zona tem sido um palco recorrente dos trabalhos de prospecção da empresa Mohave Gas and Oil que tem a concessão da exploração de toda a zona oeste. Agora, os trabalhos desenrolam-se mais perto do centro da cidade e do Mosteiro de Alcobaça, Património da Humanidade. "As máquinas fazem barulho ao passar, mas ninguém se incomoda porque a empresa fez um trabalho muito perfeito e de muita qualidade, explicando o procedimento às pessoas e nenhuma recusou a entrada nos seus terrenos" disse à Lusa Amilcar Raimundo, presidente da junta freguesia S.Vicente de Aljubarrota.» [DN]

(JÁ) NÃO ESTÁ DISPONÍVEL PARA BATALHAS DE SANGUEM NA PRAÇA PÚBLICA

«"Acho a divulgação destas imagens lamentável e vergonhosa. Vamos apurar quem foram os responsáveis pela divulgação e avançar judicialmente contra eles", disse o advogado Pedro Teixeira. Acrescentou que "o engenheiro Ferreira da Silva [presumível homicida] não está disponível para batalhas de sangue na praça pública e espera que a justiça seja feita nos tribunais". O Correio da Manhã publicou terça-feira imagens que mostram um homem a ser morto na presença da sua filha menor e titulou em primeira página, sobre a matéria: "Engenheiro dispara com neta ao colo".» [DN]

Parecer:

Pois não está, pelo menos enquanto estiver em prisão preventiva.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se uma gargalhada pelo sentido de oportunidade das palavras do advogado.»

SELINA DE MAEYER