terça-feira, abril 19, 2011

A associação de estudantes

Quando assisto às manobras políticas de Pedro Passos Coelho não consigo identificar nele um candidato a primeiro-ministro, parece-se mais a um candidato a uma associação de estudantes. As propostas sucedem-se, as negociações são feitas à base de truques e rasteiras, os grandes projectos políticos, como foi o projecto de revisão constitucional, são meramente circunstanciais.

Fico estupefacto quando ouço na TV que quem vai reunir com o FMI é Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas e quando o líder do PSD vai exigir aos negociadores as contas em cima da mesa. Isto é, tenta-se usar a reunião para confirmar uma estratégia política que visou levar o país ao impasse financeiro e para negociar medidas de política económica que vão condicionar o país no futuro leva-se um político que não sabe nada de economia. Quando delegação do FMI discutir com o PSD quais as medidas mais adequadas para a economia nacional não terá do outro lado da mesa um dos muitos economistas de alto gabarito que o PSD até tem nas suas fileiras, tem dois políticos inexperientes que não sabem qual é a diferença entre PIB e PNB.

Passos Coelho acha que um acordo de resgate financeiro está ao nível dos argumentos que o PSD usou no passado recente, como a asfixia democrática ou as escutas a Belém. Ainda por cima tenta baralhar os portugueses com contas que todos conhecem ou com as famosas PPP que um juiz do TC reformado conseguiu colocar na mesa do debate. Esquece que o que conduziu Portugal a um défice galopante foram outras contas, foram os muitos milhões roubados ao BPN pelos seus amigos, os submarinos comprados por um governo do seu partido e os mil e setecentos milhões de euros que o país teve que pagar ao Citi Bank por causa do negócio da titularização das dívidas ao fisco feito por Manuela Ferreira Leite.

Mais uma vez Pedro Passos Coelho vai dar um tiro no pé graças à sua gaiatice, é evidente que a primeira intervenção da troika é para explicar que Pedro Passos Coelho que não estão cá para o ajudar a ganhar as eleições, que os trabalhos de um acordo desta natureza e dimensão não servem para manobras eleitorais, que as contas do país são algo mais sério do que as de uma associação de estudantes e que são eles que querem saber o que Passos Colho aprova, são ele e não Passos Coelho que fazem as perguntas. Pensar que a reunião termina com o pendurar com os supostos esqueletos nas paredes exteriores da São Caetano à Lapa é uma ilusão , quando a reunião terminar a troika leva o apoio do PSD ao acordo ou, pior ainda, leva a impossibilidade de ajudar o país conduzindo-o para a bancarrota.

Quando a reunião terminar Passos Coelho não terá nada a dizer ao país, a troika não lhe fará a vontade, não lhe permitirá que volte a influenciar negativamente os mercados perigando a estabilidade da zona euro usando os trabalhos e, pior do que tudo isso, Passos Coelho e Relvas vão evidenciar que ao conduzir a reunião para a politiqueira, não se fazendo acompanhar de gente inteligente e competente, foram incapazes de discutir e negociar as medidas.

Pedro Passos Coelho segue uma estratégia de pequenos golpes de magia que lhe tem, saído bastante cara, tem dado sucessivos golpes errados e cada vez que erra é obrigado a inventar novo golpe para disfarçar o golpe anterior. Isto começa a parecer mais uma campanha eleitoral de uma associação de estudantes.