Reconduzido na liderança do PS este partido reuniu-se em congresso aproveitando-o para lançar as eleições numa altura em que à direita não faltam os que apela à resignação de José Sócrates. A vontade de se verem livres dele é tão grande que corremos o risco de vermos o CDS e o PSD promoverem um congresso conjunto com um único ponto em debate, a escolha do líder do PS que gostariam de enfrentar. O problema é que com a qualidade da liderança actual do PSD, a reboque de um Cavaco Silva que parece ter dado a liderança da presidência da dona Maria, até o porteiro do Largo do Rato seria um líder perigoso em eleições.
Cavaco foi a Budapeste fazer um dos seus passes de mágica habituais, mas esqueceu-se de que os líderes dos outros países não são parvos ao ponto de lhe fazerem os fretes. Foi Cavaco que sugeriu o recurso ao fundo europeu antes das eleições, que concluiu que o governo tinha competência para o fazer, que garantiu o seu apoio ao governo nesse cenário. Agora parece ter mudado de ideias, sabe Deus porquê, e foi a Budapeste pedir um adiamento da ajuda para que o PSD não tenha que ser confrontado com a a obrigação de apoiar medidas bem mais duras do que as que reprovou. O comissário Europeu e o presidente do BCE mandaram Cavaco calar-se, o que este fez de forma obediente. Esta direita já perdeu a noção da dignidade.
Se a Europa mandou calar Cavaco e este calou-se, Pedro Passos Coelho não precisou de ouvir tal ordem para se calar imitando uma velha estratégia de Manuela Ferreira Leite e há uma semana que parece estar em parte incerta, enquanto Cavaco procura uma saída do beco em que o atirou. Depois de ter dito um chorrilho de asneiras que comprometeram o seu futuro político Passos Coelho percebeu que os bons discursos são os que não faz, o problema é que não pode imitar Ferreira Leite quando esta disse que o seu silêncio destinava-se a evitar que o PS lhe copiasse as propostas. O problema de Passos Coelho é o inverso, há mais de duas semanas que a Europa lhe pede para dizer quais são as alternativas ao PEC IV que chumbou e a única solução que apresentou foi o aumento do IVA.
A esquerda moderna foi reunir-se com a esquerda antiga sob a protecção de uma imagem de Lenine. Depois de falhada a tentativa de dividir o PS, em baixa desde a apresentação da moção de censura e em queda livre nas sondagens, não restou a Francisco Louçã senão tirar um coelho da cartola e foi pedir ajuda ao seu FMI. Jerónimo de Sousa acedeu a ajudá-lo e Louçã saiu da reunião com a esquerda velha cheio de novas forças e a falar de um governo de esquerda.