Um dos lados miseráveis da nossa classe política é aquela personagem a que se convencionou vira-casacas, não porque me pareça que um político não possa mudar de ideias, mas pela importância que os partidos lhes atribuem. Quando certos indivíduos mudam rapidamente de ideias seria de esperar que inspirassem desconfiança, até algum nojos, mas em vez disso os partidos portugueses dão-lhe grande destaque, em vez de lhes dizerem “não, obrigado”, promovem-nos e exibem-nos como autênticos troféus de caça.
Não me confunde que alguém mude de ideias, de partido, que se passe da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, o que me faz confusão é que num dia estejamos a discutir com alguém por, por exemplo, estar mais à esquerda e no dia seguinte essa mesma pessoa nos aparece à direita criticando-nos por estarmos à esquerda. Aceito que os políticos mudem de ideias e respeito-as quando essa mudança sucede a dúvidas e se faz depois daquilo a que designaria por período de nojo.
Quando muitos militantes do PCP abandonaram este partido houve os que durante algum tempo tentaram mudá-lo, questionaram as suas ideias, saíram e alguns deles apareceram mais tarde a defender outras bandeiras ou a remeter-se para posições de alguma independência e recolhimento. Mas também houve os que num dia eram fundamentalistas e, como sucedeu com uma destacada militante fundamentalista, no dia seguinte estavam no PSD.
Faz-me confusão a forma como a comunicação social dá mais destaque a alguns destes vira-casacas do que por vezes dá a muitos militantes e dirigentes partidários de maior valor. Pior ainda, basta o estatuto de vira-casaca, de dissidente ou muito simplesmente uma voz de discordância para se ganhar grande destaque.
Parece que para além de compensar, em Portugal a traição dignifica e enobrece, como se os que são coerentes com os seus valores e não se vendem ou entram em pânico quando cheira a mudança de poder tivessem menos valor dos que as ratazanas deste navio que muitos desejam naufragado em que se está transformando Portugal.
Se a classe política já não é muito bem considerada pelos portugueses, e uma boa parte dela não merece mesmo qualquer consideração, esta vergonha que é transformar os vira-casacas em heróis, gente tão pouco digna que não se incomoda por ser exibida como se fossem troféus de caça em curtas mensagens no Facebook.
Temos bons exemplos e, infelizmente, cada vez mais de gente sem coluna que a troco de um qualquer cargo muda de ideias, de militantes destacados que ganham notoriedade social à custa de críticas ao seu próprio partido ou mesmo ministros que abandonam o barco a tempo de se irem oferecer para um lugarzito num futuro governo de outro partido. Em Roma não se pagava a traidores, mas por cá fazem fila os que esperam receber os trinta dinheiros.