Em mais de trinta anos de democracia nesta semana parece ter ocorrido a primeira tentativa de suspensão da constituição, primeiro foi a tentativa infantil de atribuir plenos poderes a um governo de gestão, depois foi a notícia do Expresso não desmentida de forma clara de que Cavaco Silva estaria a estudar com o PSD e com o CDS um pedido de ajuda externa. É evidente que um presidente que cada vez é de menos portugueses e eleito de forma tão pouco convincente não se pode arriscar de abusar dos seus poderes sob pena de vir a ser despromovido a presidente da junta de freguesia de Boliqueime, isso na hipótese de os seus conterrâneos estarem para o aturar. Com estas notícias a mensagem que se pretende passar é a preferência eleitoral de Cavaco Silva o que, aliás, nem seria necessário pois todos sabemos que apesar dos velhos ódios por Paulo Porta e do desprezo por Passos Coelho não resta a Cavaco senão tentar salvar a sua estratégia política e a sua própria imagem apostando no voto à direita.
Foi também nesta semana que o país foi surpreendido ao saber que Pedro Passos Coelho não é, afinal, um político vulgar e a quinta escolha depois de Durão Barroso ter emigrado, graças à “jornalista” Felícia Cabrita o povo rendeu-se aos atributos raros de Pedro Passos Coelho, um homem invulgar. Sabendo-se que Felícia Cabrita tem acesso mais fácil aos segredos de justiça do que o Procurador-Geral da República e que a invulgaridade do PSD não deverá constar em nenhum processo crime e muito menos deve constar de alguma escuta feita a amigos de José Sócrates, ficamos ansiosos para que a jornalista descobriu algo em que ninguém acreditava e que só com muita imaginação seria possível imaginar.
Finalmente o país recebeu uma lição de economia a título gratuito de Cavaco Silva, gratuito porque como se sabe o Presidente da República foi vítima de um dos PEC e deixou de poder acumular o seu portefólio de pensões com o vencimento presidencial. Mas pelo que se viu a lição não merecia nem uma gorjeta pois a qualidade técnica não ée melhor de a sebenta que escreveu quando era um modesto (mas ainda não mísero) professor. Lá explicou ao povo que não vamos pedir a ajuda ao papão ao FMI, que fiquem tranquilos que vamos pedir ajuda ao éfe-é-é-éfe que, por acaso até cobra juros mais elevados do que o maldito FMI e impõe condições a pedido dos concorrentes europeus, como sucedeu com a exigência à República da Irlanda de aumentar o IRC. Com o nível desta direita ainda vamos ter de pedir ajuda à OMS pois isto começa a ser um país de doidos e o problema é mais grave do que uma bancarrota, o país começa a dar sinais de demência mental.
Durante esta semana já foram visíveis algumas manobras eleitorais, para além das notícias que vão sendo dadas acerca do que se passa em Belém e que Cavaco, tal como sucedeu com as falsas escutas, não confirma nem desmente, não vá o Expresso ter que apresentar as provas do que escreve como já sucedeu no passado. Enquanto a direita ainda não sabe muito bem como vai lançar as suas tropas mais fiéis dado que o Paulo Portas não parece querer assumir o estatuto de ajudante de campo de Pedro Passos Coelho, as primeiras rixas parecem ter sido àquela que poderá vir a ser conhecida como a ala dos namorados. As hostilidades foram abertas por personalidades como Carrilho, o eng. Neto, António Barreto e Freitas do Amaral, usando as suas posições insuspeitas de independentes, de militantes do PS ou de ex-governantes de Sócrates foram os primeiros a disparar uns obuses na direcção do governo. Estas eleições irão ser uma guerra ao estilo medieval e serão muitos os que apoiarão a direita a troco de poderem participar no saque.
Na semana em que Cavaco aceitou o tão desejado pedido de demissão de José Sócrates ficou evidente que o primeiro-ministro deveria ter remodelado o seu governo, situações como a do vencimento da esposa do ministro da Justiça, a disparatada conferência de imprensa de Teixeira dos Santos (quem terá dito ao homem que é um grande comunicador?) e o diploma do gestor dos CTT provam que há ministros deste governo que provocam mais prejuízos a José Sócrates do que o marido da Bruna cá do sítio.
O conselho nacional do PSD aprovou as linhas do programa do PSD apresentadas pelo homem invulgar, mas o mais curioso foram as vozes que lhe sugeriram que tivesse cuidado com o que vai dizendo, isto é, o PSD vai propor-nos um primeiro-ministro que quando abre a boca ou entra mosca ou sai asneira. Foi o caso das suas últimas intervenções, a desastrosa proposta de aumentar o IVA, a entrevista à Reuters em que disse que chumbou o PEC porque era austeridade a menos e, a cereja em cima do bolo, a proposta de privatização parcial da CGD.
ttt
Com tanta trapalhada não admira que as sondagens tenham deixado a direita nervosa e à beira de um ataques de nervos, quando o Alberto João já sonhava com uma maioria constitucional os últimos números apontam para uma queda abrupta do PSD que a continuar vai ser uma desgraça para este partido. Ou estou muito enganado ou ainda antes de ser escolhido o próximo primeiro-ministro no PSD vai começar-se a discutir quem deverá ser o próximo líder do partido.