á passaram muitos anos, um dia tive que ir a um seminário sobre o sector do azeite na Universidade de Évora, o convite tinha sido endereçado ao meu director-geral que não foi e como eu era um dos técnicos ligados à PAC nomeou-me para estar presente. Já não me recordo se por estar sentado ao meu lado ou numa conversa no intervalo do café conheci um autarca. Conversa puxa conversa e quando chegou a hora de almoço, o autarca perguntou-me se queria acompanhá-lo no almoço. Tudo bem, mas quando a escolha foi “O Fialho” comecei a encolher-me ao que o autarca me tranquilizou. Uma das opções naquele restaurante era a escolha de uma sequência de mini-pratos e lá fui provando as melhores iguarias da gastronomia alentejana devidamente acompanhada de uma excelente selecção de vinhos. No final a conta foi paga com o VISA da autarquia.
As autarquias são a vaca sagrada da nossa democracia, em nome da proximidade das populações gasta-se muito e mal, ainda por cima são centenas de câmaras municipais que têm multiplicado as empresas municipais e outros esquemas para gastar dinheiro. Basta ir a qualquer vila histórica para nos depararmos com autocarros de muitas autarquias, levam-se os velhinhos a passear, a andar de avião e até a rezar a Fátima. A junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, a minha, prometeu aos velhinhos da freguesia se o PSD ganhasse iriam a Fátima e lá foram.
Constroem-se centros disto e daquilo, sedes faraónicas, compram-se carros de luxo, paga-se a consultores (a CM da minha terra até tem Santana Lopes como assessor jurídico) contratam-se assessores dos partidos, boys de quem ninguém fala, inventam-se geminações para que os autarcas passem a vida a viajar para locais exóticos, constroem-se rotundas floridas em direito a estátua em todos os cruzamentos, gasta-se dinheiro a rodos e na hora de fazer contas esperam-se meses até se apurar a despesa e a dívida das autarquias. São centenas de câmaras municipais num país que se atravessa de norte a sul em seis horas, e como se estas não bastasse são milhares de juntas de freguesias, algumas das quais têm mais cavalos do que eleitores. E como isto é pouco não faltam os que ainda acham que o país deve ser regionalizado.
A situação é de tal exagero que o técnicos do FMI não a puderam ignorar e disseram os óbvio, aquilo que todos sabemos e que os partidos políticos por cobardia ou oportunismo nunca aceitaram, há autarquias a mais. Nenhum partido quer perder as suas câmaras, como poderia, por exemplo, o PCP prescindir das dezenas de autocarros postos ao serviço da CGTP sempre que esta central organiza uma manifestação em Lisboa? Os recursos das autarquias são fundamentais para alimentar a máquina dos partidos.
O meu almoço foi uma coincidência rara, deu-se o caso de ter estado ao lado de um autarca que não gostava de almoçar sozinho e provavelmente achando que eu era uma alta individualidade da capital quis exibir a sua riqueza. Mas almoços como aquele os contribuintes já pagaram aos milhões, pagaram os almoços, os carros de luxo dos autarcas, os gabinetes faraónicos dos autarcas, as viagens de avião dos velhinhos a concorrência desleal de Cuba ao Serviço Nacional de Saúde, a discoteca de uma astróloga em Manta Rota, os pareceres jurídicos dos políticos no desemprego, o cachet de José Castelo Branco para Rei do Carnaval de Monte Gordo e uma infinidade de parvoíces que por aí se vão fazendo.
É uma pena que em vez de avisar o FMI para os esqueletos no armário o Pedro Passos Coelho e outros políticos não denunciem a pouca vergonha com que os aparelhos partidários têm abusado do dinheiro dos contribuintes.