sábado, abril 23, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura




FOTO JUMENTO


Igreja de São Domingos, Lisboa
JUMENTO DO DIA

Bagão Félix

O bom cristão Bagão Félix deve ter-se esquecido de que era semana santa e quando todos os políticos parecem estar em recolhimento ele parece ter querido aproveitar a oportunidade oferecida pela escassez de notícias para dar nas vistas, quase parece o Louçã dos bons tempos.
  
E o que veio dizer Bagão Félix? Veio dizer que o Estado deve dar o exemplo de austeridade, repetindo o discurso de Pedro Passos Coelho. Só que o reformado do BCP não é propriamente mais do que os outros para andar a dizer o que o país deve ou não fazer, a não ser que considere que a nomeação por Cavaco Silva para o Conselheiro de Estado o tenha levado a pensar que é conselheiro do país.
 
Ainda por cima não se cansa de usar o estatuto de ex-ministro das Finanças quando é sabido que só lá esteve por alguns meses e deixou um défice escondido que se veio a apurar ser bem mais elevado do que o comunicado ao país e a Bruxelas. Bagão Félix poderia ter-nos poupado a esta homilia de Sexta-Feira Santa.
  
«O ex-ministro das Finanças António Bagão Félix defendeu hoje em Vila de Rei que o Estado deve dar o exemplo na aplicação das medidas de austeridade, conquistando assim a compreensão e apoio dos cidadãos a esse esforço de contenção orçamental.

 
"As pessoas simples até estão dispostas a sacrifícios se perceberem que são para todos e são aplicados de maneira justa", afirmou o economista em Vila de Rei, no encerramento de um ciclo de acções de formação sobre as implicações do Orçamento do Estado nas autarquias. A extinção dos governos civis, de institutos, fundações e a redução do número de deputados são algumas das medidas que, na opinião do economista e membro do Conselho de Estado, ajudariam a diminuir a despesa, mas também a dar o exemplo de que o Estado assume a austeridade no seu funcionamento interno. Bagão Félix deu mesmo o exemplo da extinção de alguns organismos estatais distritais, considerando que o Estado deve reduzir o seu peso.» [DN]

 A GUERRA CIVIL NA LÍBIA

Lembro-me de que antes de o Ocidente ter promovido uma guerra civil na Líbia, com o argumento de que pretendiam proteger os civis, as notícias davam conta de muitos poucos mortos e mesmo esse eram confirmados de forma deficiente, as imagens que nos chegavam era de emigrantes que tentavam abandonar o país. Hoje chegam-nos notícias diárias de mortos civis, imagens de cidades destruídas e de uma situação cada vez mais grave.
  
É cada vez mais evidente que os países europeus e os EUA decidiram "ajudar" a Líbia destruindo-a o que, aliás, pouco lhes importa desde que as instalações petrolíferas fiquem intactas. É uma forma estranha de ajuda, muito parecida À dos países europeus que compram dinheiro a 2% e depois ajudam-nos cobrando mais de 5%. Com amigos destes não são necessários inimigos.

  
 

 A ROLETA PORTUGUESA

«Aterro em Lisboa, onde nunca estive, a 43 dias das legislativas de 5 de Junho. É sexta-feira, início do fim-de-semana de Páscoa, este ano a colar com o feriado comemorativo da revolução que em 1974 derrubou um regime ditatorial de meio século e permitiu a implantação da democracia. Quatro dias de férias aos quais o Executivo demissionário, embrenhado a negociar com FMI e Europa um empréstimo de muitos mil milhões para evitar a bancarrota do País, acrescentou um para funcionários públicos, isentando-os de trabalhar ontem à tarde. Gesto que o presidente do respectivo sindicato classifica de "populista" e "injustificado" mas, vá-se saber porquê, não apela à manutenção de todos nos seus postos.
  
A poucos dias do anúncio das medidas, expectavelmente muito duras, que serão aplicadas como condição da ajuda externa, os hotéis do Sul estão, segundo as notícias, lotados. As habituais comemorações parlamentares da revolução, caracterizadas por discursos cerimoniais e pela distinção entre quem ostenta ou não o seu símbolo, o cravo, na lapela, foram canceladas devido à dissolução da Assembleia. E um dos seus "heróis" desdobra-se em declarações de arrependido, elogiando até a "inteligência" e "honestidade" do ditador Salazar ("Faz falta um político assim"). Qualquer passageiro de táxi reconhece o discurso, mas um recente estudo de opinião atribuía-o à maioria dos portugueses, que considerariam os tempos pré-revolução, apesar de todas as aparatosas (a maior fatia da dívida portuguesa deve-se ao consumo privado) evidências em contrário, como "melhores para viver".
  
Não, não é fácil perceber os portugueses. No início desta semana, 65% dos inquiridos numa sondagem consideravam o Executivo o grande responsável "pelo estado a que o País chegou", e 85% achavam que "devia ter reagido mais cedo à pressão dos mercados" (fazendo o quê, não dizem). Ontem, a mesma empresa divulgou outra sondagem em que, pela primeira vez no último ano, o partido do Governo ultrapassa a principal força da oposição - que cai 11 pontos no espaço de oito dias. E o PR, eleito em Janeiro e cujo discurso de posse, em Março, desencadeou a crise política que levou à marcação de eleições antecipadas, está com popularidade negativa.
 
Com 39% (e a subir) de indecisos na sondagem citada, está tudo em aberto. Tudo menos o programa do próximo governo, em grande parte definido nas condições do empréstimo externo. Não por acaso, os dois principais partidos entretêm-se com acusações mútuas de ausência de ideias e de responsabilidade pela crise, apostando nos casos e sentimentos e tardando nas propostas políticas. Sem nada de concreto a que se ater, o eleitorado é uma montanha-russa. E a roleta do mesmo nome: é que por mais que tente não consigo entender por que raio há-de alguém querer vencer estas eleições.
 
Fora isto, Lisboa é uma cidade muito bonita. Recomendo.» [DN]

Autor:

Fernanda Câncio.
  
 AQUELES QUE MOSTRAM QUEM SOMOS

«Numa foto de Tim Hetherington, na Libéria, em Junho 2003, um exausto rebelde debruça-se no jeep, olha a mulher que lhe pousa a mão protectora, como Madona na Pietà. Ele é o combatente mas é por ela que sabemos que a vida há-de continuar. No mês seguinte, outro fotógrafo, Chris Hondros, também na Libéria, mas do outro lado, com as tropas governamentais, apresenta-nos um miliciano que salta e exulta depois de ter mandado um rocket contra os rebeldes - será que a mulher da outra foto acabava de ficar viúva?... Esta semana, Tim Hetherington e Chris Hondros estavam no mesmo lado, o mesmo bombardeamento matou-os, na Líbia. Em 1971, numa praça de Dacca, capital do Bangladesh que acabava de se separar do Paquistão depois de horrível guerra, havia os vencedores, um punhado de vencidos e fotógrafos. Os vencedores quiseram ser fotografados a esventrar os vencidos com baionetas. A maioria dos fotógrafos recusou-se, suspeitando que as mortes eram mero pretexto para as fotos. Mas dois, o francês Michel Laurent e o alemão Horst Faas continuaram a clicar - ganharam o Pulitzer. Faas havia sido o autor de uma das mais comoventes fotos da guerra do Vietname (o seu primeiro Pulitzer, 1965): um aldeão tem o filho morto nos braços e pergunta aos soldados o que adivinhamos ser "porquê?". Laurent iria ser, em 1975, o último jornalista morto na guerra do Vietname. Os fotógrafos podem contar-nos o mundo. Eles são o mundo.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  


 AMÊNDOAS AZEDAS PARA PASSOS COELHO

«A seis semanas das eleições legislativas a diferença de votos entre o PSD e o PS volta a diminuir. A distância entre o PSD e o PS foi reduzida em 4%, segundo o último estudo da Eurosondagem para a SIC, Expresso e Rádio Renascença. Na anterior sondagem a diferença era de 7%.
  
PSD arrecada 36,3% das intenções de voto (menos 1% do que a anterior sondagem) enquanto o PS consegue 32,7% (mais 2,3%).
 
O partido que mais sobe nas intenções de voto é o CDS, que consegue 11,3%.
 
O Bloco de Esquerda é o partido que mais desce, alcançando 6,9%, enquanto a CDU recua para 7,8%.
 
Estes resultados apontam para que o PSD não consiga uma maioria absoluta, mesmo coligado com o CDS. Para se conseguir uma maioria absoluta só se os dois maiores partidos se coligassem.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

O mais interessante desta sondagem é a avaliação das responsabilidades da crise e da escolha de Nobre.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Embrulhe-se cuidadosamente e envie-se a Passos Coelho.»

 ASSIM TRABALHAM OS ESPECULADORES

«O “Financial Times” avança que o e-mail enviado por um “banco de investimento internacional” que indica que a reestruturação da dívida grega irá acontecer já no próximo fim-de-semana partiu de um funcionário do Citigroup. A mesma informação é avançada pela agência Dow Jones Newswires, depois de a ver confirmada por dois membros do Governo helénico.
  
O “FT” teve acesso ao documento datado de quarta-feira, pelas 13h42, e cita algumas das suas afirmações: se a reestruturação acontecer “é crucial ver quais serão as condições, sendo que um ‘haircut’ terá um resultado muito diferente de um prolongamento das maturidades”.
  
“Nos últimos dias, as conversações em torno de uma reestruturação/renegociação [grega] têm-se intensificado, apesar dos contínuos desmentidos por parte das autoridades [gregas] e estrangeiras”, revela ainda o documento.
  
Na quarta-feira, os juros da dívida grega no mercado secundário dispararam mais de um ponto percentual nos prazos a dois anos e levaram os juros portugueses também a máximos desde a entrada no euro.
  
O Citigroup recusa qualquer envolvimento neste assunto. “Estamos a cooperar com as autoridades e consideramos não ter havido nenhum delito por parte do Citi ou dos seus funcionários”, escreveu o banco numa declaração citada pelo FT. » [Jornal de Negócios]

Parecer:

Como diz Cavaco Silva devemos respeitar os mercados...

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se conhecimento ao "mísero professor".»
  


 GULF OIL SPILL ONE YEAR LATER [boston.com]



    

 

  

  

  
  


 CORNEL PUFAN 
  






 AMNISTIA INTERNACIONAL

"