O FMI está em Portugal, o Otelo diz que está arrependido de ter feito o 25 de Abril e confessa-se admirador de Salazar, o sonho comunista persiste para 15% da população, uma burguesia política enriquecida pelos governos digladia-se pelo poder, os jornalistas fantasiam em função das preferências dos patrões, o país afunda-se em borlas e deseconomias, o Presidente da República transforma-se em instrumento de crise política, um governo foi impedido de governar.
O modelo nascido do 25 de Abril chegou ao fim, o Estado do paternalismo corporativista convertido no Estado paternalista de Abril esgotou-se e esgotou os recursos nacionais, o modelo político supostamente perfeito apenas serviu para criar mais de trinta anos de instabilidade política e de indecisão, os governos fracos geriram a economia em função das sondagens eleitorais.
Num país pobre e com fracos recursos seria necessária uma cultura de rigor e em vez disso promoveu-se uma cultura de fartura, seriam necessários governos capazes de governar e em vez disso tivemos governos vulneráveis, impunha-se uma gestão criteriosa de recursos e em vez disso estes foram delapidados por grupos corporativos e de interesses, precisava-se de um Estado rigoroso e este afundou-se, confundiu-se com os aparelhos partidários e desmoronou-se em corrupção.
O país precisa de criar riqueza, de ser rigoroso na forma como consome e distribui os seus recursos e para isso precisa de ser governado de forma eficaz. Mas o modelo político adoptado em Abril é uma aberração, os governos não governam e os presidentes entretêm-se a olhar-se ao espelho e a provocarem crises políticas, nos primeiros mandatos passeiam pelo país, nos segundos mandatos conspiram contra os governos para lá meterem os seus, a cada duplo mandato presidencial corresponderam anos de profunda crises políticas provocadas pelos presidentes, Eanes desorganizou o modelo partidário com o PRD, Soares despachou Cavaco, Sampaio despachou Santana Lopes e Cavaco está fazendo tudo para se livrar de Sócrates nem que para o conseguir leve o país à destruição financeira.
O país está num beco sem saída, o modelo político não gera soluções de governo, a instituição presidencial gera intriga e brinca ao Facebook, os políticos candidatam-se ao poder dizendo que sabem fazer farófias e o povo sofre com os inevitáveis programas de austeridade, a cada ciclo de desgoverno e oportunismo das elites segue-se um ciclo de austeridade e de sacrifícios para os mais pobres, tudo isto para manter um modelo político utópico.
É tempo de Portugal iniciar outro ciclo pondo fim às utopia, criámos um paraíso imaginário que se está a transformar num pesadelo, somos reféns de uma organização do poder ineficaz. Como um dia disse Salgueiro Maia começa a ser novamente necessário acabar com o estado a que chegámos, substituir o 25 de Abril por um outro em que a democracia possa cumprir o que prometeu. É preciso fazer renascer Abril sem que seja refém de minorias de vanguarda, pondo fim a um ciclo constitucional que coloca Portugal fora do seu tempo.
Precisamos de gente como Salgueiro Maia, gente que não queira tutelar os portugueses e que dê sem exigir nada em troca, gente que não enriqueça à custa do país ou proteja os seus privilégios políticos, económicos ou sindicais atrás de um Abril que já não existe.
Precisamos de gente como Salgueiro Maia, gente que não queira tutelar os portugueses e que dê sem exigir nada em troca, gente que não enriqueça à custa do país ou proteja os seus privilégios políticos, económicos ou sindicais atrás de um Abril que já não existe.