segunda-feira, abril 25, 2011

O último 25 de Abril

   
O FMI está em Portugal, o Otelo diz que está arrependido de ter feito o 25 de Abril e confessa-se admirador de Salazar, o sonho comunista persiste para 15% da população, uma burguesia política enriquecida pelos governos digladia-se pelo poder, os jornalistas fantasiam em função das preferências dos patrões, o país afunda-se em borlas e deseconomias, o Presidente da República transforma-se em instrumento de crise política, um governo foi impedido de governar.

O modelo nascido do 25 de Abril chegou ao fim, o Estado do paternalismo corporativista convertido no Estado paternalista de Abril esgotou-se e esgotou os recursos nacionais, o modelo político supostamente perfeito apenas serviu para criar mais de trinta anos de instabilidade política e de indecisão, os governos fracos geriram a economia em função das sondagens eleitorais.

Num país pobre e com fracos recursos seria necessária uma cultura de rigor e em vez disso promoveu-se uma cultura de fartura, seriam necessários governos capazes de governar e em vez disso tivemos governos vulneráveis, impunha-se uma gestão criteriosa de recursos e em vez disso estes foram delapidados por grupos corporativos e de interesses, precisava-se de um Estado rigoroso e este afundou-se, confundiu-se com os aparelhos partidários e desmoronou-se em corrupção.

O país precisa de criar riqueza, de ser rigoroso na forma como consome e distribui os seus recursos e para isso precisa de ser governado de forma eficaz. Mas o modelo político adoptado em Abril é uma aberração, os governos não governam e os presidentes entretêm-se a olhar-se ao espelho e a provocarem crises políticas, nos primeiros mandatos passeiam pelo país, nos segundos mandatos conspiram contra os governos para lá meterem os seus, a cada duplo mandato presidencial corresponderam anos de profunda crises políticas provocadas pelos presidentes, Eanes desorganizou o modelo partidário com o PRD, Soares despachou Cavaco, Sampaio despachou Santana Lopes e Cavaco está fazendo tudo para se livrar de Sócrates nem que para o conseguir leve o país à destruição financeira.

O país está num beco sem saída, o modelo político não gera soluções de governo, a instituição presidencial gera intriga e brinca ao Facebook, os políticos candidatam-se ao poder dizendo que sabem fazer farófias e o povo sofre com os inevitáveis programas de austeridade, a cada ciclo de desgoverno e oportunismo das elites segue-se um ciclo de austeridade e de sacrifícios para os mais pobres, tudo isto para manter um modelo político utópico.

É tempo de Portugal iniciar outro ciclo pondo fim às utopia, criámos um paraíso imaginário que se está a transformar num pesadelo, somos reféns de uma organização do poder ineficaz. Como um dia disse Salgueiro Maia começa a ser novamente necessário acabar com o estado a que chegámos, substituir o 25 de Abril por um outro em que a democracia possa cumprir o que prometeu. É preciso fazer renascer Abril sem que seja refém de minorias de vanguarda, pondo fim a um ciclo constitucional que coloca Portugal fora do seu tempo.
 
Precisamos de gente como Salgueiro Maia, gente que não queira tutelar os portugueses e que dê sem exigir nada em troca, gente que não enriqueça à custa do país ou proteja os seus privilégios políticos, económicos ou sindicais atrás de um Abril que já não existe.