Os especuladores do mercado da dívida soberana têm contado com uma preciosa ajuda das agências de rating, com as habituais “fontes anónimas” que dia sim, dia não inventaram pedidos de ajuda e como alguns opinion maker internacionais que se divertem a prever a falência de alguns países europeus ou mesmo da zona euro. Mas se não é novidade que a especulação tem os seus agentes habituais, o mais grave é que têm ganho muitos milhões à custa do país à custa de alguns amigos locais que com as suas intervenções e decisões os ajudaram a roubar muitos milhões ao país. Os especuladores têm contado com a ajuda preciosa de algumas amigos locais:
Teixeira dos Santos: os sucessivos erros de previsão, o descontrolo na intervenção no BPN para salvar os banqueiros que agora fizeram chantagem sobre o país para salvarem a sua própria pele, a incapacidade técnica de decidir em tempo úteis o que deve ser considerado despesa (submarinos, intervenção no BPN, etc), conferências de imprensa desastrosas, incompetência na determinação do momento adequado para a adopção de medidas económicas, são erros sucessivos que só ajudaram a aumentar as dúvidas sobre o país. O momento mais alto dos erros de Teixeira dos Santos foi a famosa declaração de que iria pedir ajuda quando a taxa de juro do mercado secundário atingisse os 7%, isto é, disse aos especuladores até onde poderiam ir e depois fez pior, calou-se e deixou que os mercados provocassem sucessivas subidas dos juros passando a andar a reboque dos acontecimentos.
Luís Cunha, Medina Carreira, João Duque e outros economistas: se muitos economistas portugueses, como Nogueira Leite, Miguel Beleza e muitos outros, optaram por uma postura cuidadosa e austera, outros não contiveram os seus ódios pessoais ou as suas ambições políticas e optaram por aumentar o seu protagonismo assumindo o papel de profetas da desgraça. Declarações a defender a vinda do FMI e a destruição sistemática da credibilidade do Estado e do país funcionou como adubo para os especuladores.
Soares dos Santos: deste o antigo regime que um empresário não tinha um papel político tão activo, o hiper-merceeiro do Pingo Doce parece ter criado uma fundação que serviu para pagar a algumas personalidades públicas e tem vindo a desencadear uma campanha sistemática, chegando ao ponto de usar os altifalantes das suas mercearias para como perguntas do tipo “saiba se vai ter pensão” lançar o pânico nos seus clientes.
Cavaco Silva: na campanha presidencial apelou ao voto para tranquilizar os mercados, mas no momento da vitória fez um verdadeiro pré-anúncio da crise política que confirmou de forma clara no dia da posse. O mesmo que achava que uma segunda volta prejudicava o país não parece ter hesitado em lançar a crise política, tendo sido óbvio o envolvimento de gente da sua confiança na decisão do PSD de chumbar o PEC IV e lançar a crise política.
Pedro Passos Coelho: a estratégia da actual liderança do PSD era clara, forçar um pedido de ajuda internacional para que um acordo com o FMI obrigasse o PS a aceitar o projecto político há muito defendido pelos liberais do Compromisso Portugal, despedimentos, desmontagem do Estado Social, liberalização total do mercado de trabalho, cortes nos vencimentos. Quando recuou no projecto de revisão constitucional passou a apostar tudo na crise financeira e não hesitou em derrubar o governo para que no dia seguinte passasse a pressioná-lo para pedir ajuda. Conseguido este objectivo já há vozes no PSD a defender o despedimento de funcionários públicos.
Os quatro irmãos da banca: os banqueiros do BCP, Santander, BES, BPI salvaram-se da borrasca entregando a intervenção no BPN ao Estado, recorreram aos avais do Estado quando perderam o acesso ao financiamento externo e quando as agências de rating os atingiu não hesitaram em fazer chantagem sobre o Estado. Agora querem que seja o Estado e os cidadãos a pagar uma factura elevada para que não tenham de assumir a responsabilidade por uma estratégia irresponsável de promoção do crédito ao consumo. De um lado ganharam ao comprar dívida soberana, do outro são os primeiros especuladores que recearem o risco força o Estado a pedir ajuda internacional. Salvaguardam-se e esperam que vir a ganhar com um acordo internacional de resgate que vá de encontro às suas teses liberais.