Depois de tudo o que é enrascado que anda por aí a manifestar-se, desde os que estão à rasca por terem de pagar portagens aos que se enrascaram por terem mais olhos do que barriga e provocaram uma crise convencidos de que ganharão as eleições, foi a vez dos banqueiros à rasca se manifestarem. Mas como é gente fina não precisaram de convocar a manif nem de pedir autorização legal ao Governo Civil, telefonaram ao presidente do Banco de Portugal e lá foram para entre chazinhos e scones dizerem o que querem.
Nunca como agora o balanço da privatização da banca e a liberalização do sector evidencia um resultado tão negativo para o país. A seguir à nacionalização os bancos andaram de mão em mão e ajudaram a enriquecer muitos, praticaram taxas de juro altíssimas, graças a esquemas em off-shores ou a engenharias fiscais agressivas quase deixaram de pagar impostos, encheram os tribunais de recursos pois não pagam um tostão de impostos sem que recorram a todos os esquemas legais para retardarem o cumprimento das obrigações fiscais, alguns só pagam mesmo quando sabem que o nome vai constar na lista negra, corromperam o Estado promovendo a promiscuidade entre a banca e altos cargos da Administração Pública, assaltaram o poder estando presentes em quase todos os governos, reorganizaram-se internamente para promover a precariedade e a proletarização dos seus funcionários, emagreceram os custos à custa de fusões e de despedimentos.
O país pouco ou nada deve a estes banqueiros, antes pelo contrário, são eles que enriqueceram à custa do país, praticam comissões absurdas nas transacções das empresas, dão prioridade ao crédito ao consumo onde as taxas são mais elevadas e chegam ao ponto de terem criado bancos paralelos para explorarem o agiotismo sob a forma de crédito instantâneo, aproveitaram-se dos juros baixos para estimularem o consumo e conduzirem a economia para um beco sem saída.
Quando a coisa deu para o torto empurraram o problema para o Estado, face à falência do BPN e do BPP assobiaram para o ar e em privado empurraram o governo para uma intervenção à custa dos contribuintes. O governo interveio para evitar o contágio aos outros bancos mas estes não deram qualquer contributo, salvaram-se deixando o Estado quase na bancarrota e foram os portugueses a pagar a factura com cortes de vencimentos e aumentos de impostos. Quando deixaram de ter acesso a financiamento beneficiaram dos avais do Estado, mais uma vez foram os contribuintes que assumirem o risco em caso de incumprimento
Agora que o país foi atirado para o limiar do caixote do lixo do sistema financeiro e são penalizados porque dependem mais do Estado do que os pensionistas da Função Pública estão atrapalhados, as agências de rating reduziram-lhes o acesso ao crédito internacional. Não esperaram nem um dia, mal as agências de rating os desclassificaram pediram uma entrevista ao presidente do Banco de Portugal que como sucede sempre com os seus pedidos foi logo confirmada e realizada. E o que foram pedir? Pediram ao governador do Banco de Portugal que dissesse ao primeiro-ministro que entale mais os portugueses porque eles estão à rasca.
Neste país as empresas podem falir, os governos podem cair, os portugueses podem morrer à fome, mas os banqueiros não podem cair, deixar de ter lucros ou pagar impostos. Nestes tempos difíceis ficámos a saber que não são os portugueses ou o Estado que precisam dos banqueiros, são estes que vivem à custa dos portugueses e do país.