Diogo Leite Campos, um especialista em ganhar milhões no fisco, teve a ideia de criar um cartão que designou de débito de serviços, a ideia é em vez de dar dinheiro em apoios sociais entregar um cartão que serviria para pagar bens e serviços essenciais. A ideia parecia estapafúrdia mas Passos Coelho conferiu-lhe dignidade dizendo que merecia ser pensada. Assim sendo, sinto-me na obrigação de dar o meu contributo para este cartão cuja designação proponho desde já que seja “Cartão do Pobre”.
Parece-me que há pobres e pobres, não podemos meter no mesmo saco os gandulos, os desempregados, os velhotes com a pensão mínima e os pobres que muito simplesmente nasceram pobres, são pobres e hão-de morrer pobres. É por isso que não é justo que haja um cartão igual para todos os pobres, não se pode confundir o desempregado com o gandulo ou o pobre que é mesmo pobre com o pobre que teve o azar de ficar pobre.
A ideia não é nova, os bancos emitem cartões de crédito de cor diferente em função da riqueza dos clientes, platina para os mais ricos, dourados para os que têm a mania de que são mais ricos dos que os outros e os indiferenciados para os tesos. Assim sendo o Cartão do Pobre também poderia ser diferenciado em função das cores, de platina para os desempregados pois recebem apoios sociais parcialmente financiados por descontos que fizeram no passado, dourado para os que são pobres apesar de terem trabalhado toda a vida e da cor de burro quando foge para os diversos tipos de gandulos, gentes que é pobre porque não quer trabalhar.
A cores diferentes do cartão de pobre devem corresponder não só os montantes creditados como também o tipo de consumos para que podem ser utilizados. No cartão dos mais tesos não é aceitável que possa ser usado para comprar bebidas alcoólicas, deverá ter um chip que possa conter uma lista de produtos de forma a não aceitar o pagamento de bens de luxo. Por exemplo, se um portador de um destes cartões pretendesse comprar vinho o cartão só funcionaria se fosse um pacote de vinho para utilização culinária, se o produto fosse queijo só poderia ser usado naquele queijo de barra que sabe a sabão e o produto for papel higiénico é impensável que o cartão permita comprar rolos de quatro folhas perfumadas.
Já o cartão dourado permitiria comprar mais umas coisinhas, por exemplo, já poderia permitir comprar uma grade de cervejas engarrafada por mês, no peixe a escolha não se ficaria pelas sardinhas congeladas e permitira comprar uns carapaus frescos, até porque serviria de homenagem ao Presidente Cavaco Silva que, como se sabe, é um apreciador de carapaus alimados. Mas seria impensável, por exemplo, que permitisse o pagamento das prestações de uma máquina de lavar pois se não têm nada para fazer podem muito bem lavar a roupa à mão.
O cartão platina, destinado aos pobres temporários, já permitira um padrão mais elevado de consumo, ainda que com restrições pois as pessoas são como o país, não podem consumir mais do que ganham. Mas tal como o país também poderiam ter alguma margem no acesso ao crédito e os bancos poderiam conceder a estes cartões um pequeno plafond de crédito, ainda que condicionando o tipo de consumo admitido. Por exemplo, o crédito poderia ser usado para comprar umas calças nas Zara mas na Lewi’s nem pensar.
A ideia dos cartões é tão boa que deveria ser generalizada a todos os portugueses, bem vistas as coisas até se poderia dispensar o cartão de pobre e seria o cartão do cidadão a desempenhar essa função. O cartão do cidadão dos gandulos teria uma cor, o dos tesos outra, o dos desempregados outra e por aí adiante. Assim poderia decidir-se, por exemplo, que quem não trabalha numa empresa que exporta e, portanto, não contribui directamente para a balança comercial só poderia comprar carros em segunda mão.