Quando há uns anos atrás alguém considerava a Ponte Vasco da Gama, a auto-estrada para o Algarve, a Expo ou a segunda metade da Via do Infante como obra de António Guterres ouviam-se muitas vozes indignadas em defesa de Cavaco Silva dizendo que a obra foi feita durante o governo de Guterres mas que tinha sido projectada e decidida por Cavaco Silva tendo Guterres feito pouco mais do que concluir.
Quando em tempos Cavaco Silva cedia aos sindicatos a troco de acordos de concertação social que agora exibiu para efeitos de campanha das presidenciais trocava a decisão dos sindicalistas por normas de pouco impacto durante os seus governos. Foi assim que, por exemplo, os antigos professores de trabalhos manuais (eram designados mestres) que tinham pouco mais do que o curso geral de indústria passaram a ser equiparados a licenciados e a ganhar como tal depois de um falso curso e de um exame da treta, foi também assim que foi possível a muitos funcionários públicos comprar anos de serviço com o argumento de que tinham trabalhado sem fazer descontos. Foi por estas e por outras que muitos de reformaram com cinquenta anos e a ganhar mais como pensionistas do que ganhavam como funcionários, não sendo por acaso que alguém designou Cavaco Silva como pai do monstro.
Não vale a pena acusarem agora José Sócrates de défices elevados quando há poucas semanas ainda acusavam o orçamento por não apostar no crescimento quando se sabe que tal só é possível pelo aumento do consumo e/ou do investimento público, logo com mais despesa do Estado. Num dia vota-se contra o PEC IV porque significa mais recessão e no dia seguinte diz-se à Reuters que se pretendia um PEC ainda mais restritivo.
Tanto quanto me recordo a crítica que sempre foi dirigida aos orçamentos dos governo de José Sócrates foi a de não apostar no investimento público e a orgia da defesa da despesa pública atingiu o máximo quando foi necessário combater as consequências da crise do sub-prime, na ocasião todos exigiram mais medidas, nenhum avisou para as consequência no plano da dívida pública. Aliás, em todos os orçamentos o argumento foi sempre o mesmo, eram restritivos.
Não é muito bonito ganhar votos à custa das alterações do regime de pensões do Estado e depois vir insinuar-se que o ponto a que se chegou a dívida se deve apenas a Sócrates. Sejamos mais honestos, Ferreira Leite não enfrentou qualquer crise financeira internacional, não teve o petróleo a 150 dólares , não enfrentou a especulação no mercado financeiro, não teve que enfrentar nenhuma crise internacional e o seu défice orçamental mesmo disfarçado com a venda do património e a absurda venda de dívidas ao fisco a um banco em condições muito duvidosas, atingiu patamares inaceitáveis.
Tudo quanto é gato pingado do cavaquismo ganhou com o BPN, até o próprio Cavaco Silva sem perceber nada de acções como o próprio afirmou ajeitou a sua pequena fortuna, levaram o banco à exaustão ao ponto de pôr em causa a estabilidade do sistema financeiro. Quando o banco foi nacionalizado ficaram caladinhos que nem uns ratos e esperaram pelo esquecimento e pela certeza de que as investigações ficariam em águas de bacalhau para agora explorarem as consequências financeiras dos actos dos seus amigos. Quanto do défice de 2010 que fizeram o país soçobrar nos mercados financeiros resultam das diatribes do cavaquismo no BPN e da compra dos submarinos?
Sejamos honestos, a direita tem tantas ou mais responsabilidades do que qualquer outro partido na actual situação do país e o pai da desgraça nacional dá agora lições ao país a partir da Presidência, cargo para o qual foi eleito em má hora.