Não se percebeu muito porquê mas o debate em torno da maçonaria calou-se muito repentina, a imensa vaga de falsa indignação desapareceu como que por milagre, até parece que havia quem receasse que o debate se alargasse a outros domínios. Um dos domínios que seria interessante discutir seria o papel da mais poderosa organização secreta do país, a família.
Ainda esta semana tivemos um bom exemplo dos jogos de influências que se desenvolvem no segredo dessa tão acarinhada instituição, a irmã da ministra da Justiça foi nomeada para o alto cargo pela ministra da Agricultura, isto umas semanas depois de o ex-marido ter ido para a EDP e sabendo-se que tem outros amigos e/ou familiares a beneficiar da sua chegada ao poder.
Acontece que a ministra da Justiça, para além de se ter destacado num falso combate à corrupção e às supostas fraudes dos advogados oficiosos, foi uma das personalidades que de se destacou na defesa da identificação pública dos membros da maçonaria que assumissem cargos públicos. Seguindo esta ordem de ideias faz sentido questionar se assim como os membros das lojas maçónicas não acha que também os membros das lojas familiares não deveriam ser identificados. Assim, no despacho de nomeação da sua mana deveria haver uma alínea informando que era irmã da ministra da Justiça. Dessa forma os cidadãos mais distraídos poderiam entreter-se a comparar o currículo político da ministra com os tachos abocanhados pela mana arquitecta.
Há por aí um comentador televisivo que tem um mano a fazer carreira à sua sombra e os exemplos poderiam multiplicar-se, seriam mesmo muito numerosos se fosse possível conhecer os laços familiares de cada membro do poder. EM muitos casos os apelidos de família desaparecem e começa a ser difícil reconhecer todos os membros de uma família dada à corrupção.
Talvez a ministra que legislou sobre a produção de prova nos casos de corrupção e é defensora da marcação pública de políticos que por opções privadas são merecedores do título de gente suspeita, também queira legislar sobre esta matéria. Poderia exigir-se, por exemplo, que todo e qualquer cidadão que tivesse laços de parentesco até ao quarto grau com alguém influente estivessem condicionados no acesso a cargos públicos.
Seguindo esta ordem de ideias poderia alargar-se o conceito de família, passaríamos a considerar as ligações profissionais como exemplo de laços do tipo familiar. Teríamos, por exemplo, a família do BdP, uma família bem mais poderosa do que qualquer organização secreta ou mesmo que a família Teixeira Pinto. Tão poderosa que nomeou um ministro e um secretário de Estado para alterarem o estatuto da família blindando os familiares a qualquer medida de austeridade, incluindo as por eles propostas. Não deixa de ser curioso que a independência seja invocada para continuarem a ganhar à grande e à francesa, mas é ignorada quando se multiplica a promiscuidade entre o governo e o BdP.