Um dos aspectos mais miseráveis da política económica seguida pelo governo é a opção clara por salvar das consequências dessa mesma política o maior número possível de apoiantes do governo e, principalmente, os chamados boys. Não admira que a justificação dada nos bastidores para a opção para o corte dos subsídios da Função Pública, tenha sido de natureza eleitoralista, o governo tramou aqueles cujo voto não esperava ter.
Agora o país ficou a saber que em Portugal há uns rapazes que estão acima dos portugueses, com o falso argumento da independência os senhores do Banco de Portugal vivem à grande e à francesa à custa dos portugueses. A independência não se traduziu em bifes para os juízes, os militares ou mesmo para o Presidente da República, mas funcionou para os rapazolas do Banco de Portugal que podem viver à margem das dificuldades do país, é como se pertencessem a uma pequena comunidade de luxemburgueses ricos a viver em Lisboa. Compreende-se o argumento da independência, o motorista do senhor Costa, governador do banco, ou a sua secretária pessoal não podem perder a sua independência porque o país seria expulso do euro, mas o presidente do Supremo Tribunal de Justiça já pode perder os subsídios porque a sua independência em relação ao executivo é coisa de menor importância. Sim senhor!
Mas o problema é mais grave, o ministério mais apressado no processo de reestruturação que supostamente se destinava a aliviar os contribuintes foi precisamente o ministério das Finanças e graças a esta reestruturação e pela “calada da noite” mexeu-se no Estatuto do Banco de Portugal, algo que ninguém tinha dito ser necessário. E qual foi a consequência dessa pequena mexida? Foi blindar o Banco de Portugal contra as medidas de austeridade destinadas à populaça.
Esta pressa do ministério das Finanças em reestruturar-se a tempo de alguns dos seus ficarem a salvo da austeridade é duvidosa e mais duvidosa é quando o ministro das Finanças era, à data em que ocupou o cargo governamental, consultor do Banco de Portugal, função a que poderá voltar quando abandonar o governo. Isto é, quando deixar o governo Vítor Gaspar poderá regressar ao conforto das mordomias do Banco de Portugal que ajudou a salvar.
Se era de estranhar a escolha de Hélder Rosalino para o cargo de secretário de Estado da Administração Pública deixou de o ser. O rapaz tem pouco mais do que uma modesta licenciatura, desconhecia inteiramente o que é o Estado e no seu currículo não há uma linha que faça dele um potencial membro do governo com a responsabilidade pela reforma da Administração Pública. Agora percebe-se a sua escolha, foi o responsável pela gestão dos recursos humanos do Banco de Portugal, tendo sido igualmente responsável pela gestão do fundo de pensões do banco. Está explicado, o homem não sabe nada de Administração Pública mas percebe muito de remunerações e pensões do Banco de Portugal, um dossier que também interessa ao ministro. Compreende-se agora a razão porque o ministro foi buscar um gestor do Banco de Portugal para mexer no Estado!
Já no governo de Sócrates tivemos um secretário de Estado que mudou tudo mas na hora de sair refugiou-se no Tribunal de Contas onde ficou livre de todas as medidas que adoptou e ainda vai ganhar um subsídio de residência vitalício. Não seria de admirar que como sucedeu com o antecessor, o Rosalino regresse brevemente ao Banco de Portugal, já fez o serviço e pode regressar para onde fica a salvo da austeridademuito graças às suas próprias decisões.
Como muito bem diz o povo, quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é estúpido ou não tem arte!