Quando uma política económica em vez de procurar o bem-estar dos cidadãos visa empobrece-los, quando a sua justificação é feita com base em falsidades e manipulações da informação orçamental, quando os sacrifícios resultantes dessa política são distribuídos em função de critérios eleitorais e quando se busca o apoio através da manipulação das opiniões promovida por patrões da comunicação social sem princípios ou escrúpulos, essa política económica mais cedo ou mais tarde conduzirá ao conflito social, fragmentará a base de apoio do governo e conduzirá à sua queda.
O aspecto mais indigno da política económica de Vítor Gaspar, para além da falta de legitimidade política, da pouca consideração demonstrada pela soberania nacional e da destruição da sociedade portuguesa que está nos seus pressupostos, é a falsa acusação aos portugueses, melhor, à classe média e aos mais pobres, de que consumiram acima das suas possibilidade e agora devem espiar os seus pecados, cabendo a um economista de formação cristã o controlo da penitência a que deverão ser sujeitos.
Não foram os filhos dos banqueiros que escolheram as melhores estâncias de neve, viajaram em executiva, alugaram carros de luxo e ficaram nos melhores hotéis que consumiram recursos acima do que o país podia. Foi a cabeleireira ou o funcionário público que ousaram ir num avião atafulhado passar uma semana na República Dominicana que consumiram os parcos recursos nacionais. Não foram os gestores, que agora apelam à reintrodução do esclavagismo em part-time, que comeram à grande e à francesa nos restaurantes de luxo por conta dos cartões Visa das empresas e contando com essas despesas para reduzir os impostos que consumiram em excesso, foram os pensionistas que recebem quatrocentos ou quinhentos euros que ousaram visitar uma grande superfície e tiraram por algumas vezes a barriga da miséria.
A canalhice deste governo na condução da política económica é tão grande e revela um tal desprezo que ao mesmo tempo que adoptam mais medidas de austeridade para compensarem falsos desvios ou os que resultam da incompetência de Vítor Gaspar, vão distribuindo benesses e ordenados chorudos pelos seus. A podridão moral chega ao ponto de um velho guloso justificar a fortuna que vai receber na EDP com o efeito redistributivo dos impostos que vai pagar.
Esperemos que um dia destes os portugueses não perceberam o logro em que caíram, se isso suceder é muito provável que muitos milhares decidam ir cantar o “ai se eu ti pego” à frente do ministério das Finanças e o ministro terá de pedir a uma auxiliar que vá à loja mais próxima comprar fraldas descartáveis, o que não seria o primeiro a encomendar estes recados, em tempos havia um que encomendava preservativos.