No passado as grandes potências faziam testes nucleares sem cuidar muito das consequências, na América eram usados soldados para testar as consequências, nos atóis do Pacífico pouco se cuidava das consequências para as populações, na ex-URSS eram feitos em segredo e sem se conhecerem as consequência. Recuando um pouco, o dr. Mengele usava gêmeos do Campo de Auschwitz, aquele que parece ter sido a fonte de inspiração de algumas das designações das medidas de austeridade deste governo, para fazer testes brutais.
O respeito pela via humana é um valor civilizacional muito recente e um dos domínios em que este mais evoluiu foi na não aceitação que cidadãos, nações ou populações sejam sujeitos a testes médios, científicos ou militares que ponham em perigo a sua saúde ou segurança. Era assim até ao ajustamento que este governo está impondo aos portugueses.
Não há nenhum documento que explique as opções de política económica do ministro Vítor Gaspar, não há quaisquer metas ou objectivos a médio ou a longo prazo, as previsões de curto prazo falham porque foram falseadas para provocar desvios que fundamente mais medidas brutais. Esta política económica não se fundamenta, não obedece a qualquer plano, as suas medidas são adoptadas de forma errática e ao sabor dos desvios colossais provocados pelo Gaspar. Cada vez que os estarolas da troika por cá aparecem, ao que dizem será para fazerem avaliações, decide-se a sujeição dos portugueses a mais uma vaga de testes escolhida na ocasião.
Os técnicos do FMI e do BCE, o equivalente internacional à média de 15 na Católica do nosso ministro (que a RTP fez questão de dizer que na época era uma nota altíssima pois a Católica, uma escola sem grande tradição em cursos de economia e que tem métodos de ensino liceais, seria muito exigente), encontraram num pequeno país europeu o banco de testes ideal para um dia constar num anexo de um qualquer livro de professores de Harvard, prefaciado na tradução de português para Portugal pelo dedicado Vítor Gaspar.
Não importa quantos quadros qualificados são expulsos do país, quantos jovens seguem a sugestão de Passos Coelho e abandonam o país, quantos ficarão sem emprego para o resto da vida, quantos empresários verão as suas empresas destruídas. Não importa a dimensão do retrocesso civilizacional, a destruição de um património social de décadas, um modelo social e político construído nos últimos quase quarenta anos. A única coisa que importa é testar as ideias do pessoal de Harvard, pode ser que alguém suba na vida e venha a ser convidado para ser professor naquela universidade. Não importa quantos se suicidam, quantos ficam a passar fome, quantos destruiram a vida, a única coisa que lhes importa é saber se vão ter direito a um alto cargo que lhes garanta um elevado nível de vida e um estatuto social que não tinham.
Aquilo a que eles chamam ajustamento não passa de um miserável teste de política económica, o equivalente em economia aos testes nucleares no atol da Muroroa. Os portugueses não foram questionados sobre se concordavam, ninguém avaliou ou se preocupou com as consequências. Agora que o teste falhou e a destruição é generalizada desdobram-se em mentiras e até o presidente da República já deve ter visto a Nossa Senhora de Fátima, não deve haver mais ninguém neste país a acreditar que o governo cumpre o défice orçamental previsto para 2013, só mesmo um grande milagre da nossa santa milagreira.