segunda-feira, fevereiro 17, 2014

A troika já partiu

Ainda faltam uns meses para o fim do “ajustamento” mas a troika já desapareceu, vem cá de vez em quando para uns acertos e pressões, mas a verdade é que o governo está cada vez mais entregue a si próprio e o seu programa ideológico deixou de ter a participação activa dos rapazolas do FMI, do BCE e do Durão Barroso. O governo declara o milagre, os famosos professores de Harvard desapareceram, o Barroso está a fazer as malas e até Cavaco Silva já percebeu que o programa cautelar  não passa de uma ficção.
  
A troika não quer assumir as responsabilidades pelo falhanço, a senhora do FMI não vai querer assumir que mandou para cá uns rapazes especialistas em políticas económicas incompatíveis com as democracias europeias, o BCE há muito que mudou de estratégia e o Durão Barros já perdeu a esperança de lançar uma opa sobre um palácio português com vista para o Tejo. À troika interessa a mentira do milagre à medida da Santinha da Horta Seca, a Passos Coelho importa vender esperança para que ele próprio possa ter esperança de sobreviver, resta montar uma encenação que consiste adiar as consequências dos erros deste governo para o próximo governo.
  
O primeiro a encenar esta estratégia foi Cavaco Silva ao tentar forçar o PS a aceitar um consenso sem princípios que mais não era do que aceitar a política do seu governo e transformar-se em ala liberal do regime do cavaquismo. O pós-troika de Cavaco assentava no pressuposto de que haveria um antes e um depois da troika, a tentativa de um plano cautelar não passava de uma forma de obrigar o país e o próprio PS a um regime prolongado de falta de soberania.
  
Sem a tutela da troika disfarçada por um plano cautelar, resta à direita dar o tudo por tudo para ganhar as eleições, mas para isso precisa de adiar para depois das eleições de 2015 uma avaliação dos resultados do empobrecimento forçado da classe média, coisa inventada por um tal Vítor Gaspar. Aliás, o próprio ex-ministro está aproveitando esta acalmia encenada pelo governo e pelas instituições da troika para branquear as suas responsabilidades e a sua incompetência, desdobra-se em livros e em entrevistas para e apresentar como o salvador da nação.
  
A solução encontrada por Passos Coelho e Cavaco Silva para assegurar um mandato presidencial mais ou menos tranquilo e a possibilidade da direita se manter no poder, foi fazer um mealheiro, juntando o que sobra das receitas fiscais conseguidas com taxas brutais ao que se pede no mercado a uma taxa superior a 15%. Isto é, Passos Coelho em vez de resolver os problemas da economia portuguesa não só os agravou como agora paga o adiamento de qualquer solução aumentando a dívida pública para garantir duas boas campanhas eleitorais, ainda que pagas a juros de 5%.
  
A tal troika que queria reformar Portugal limitou-se a apoiar um governo apostado num retrocesso civilizacional e agora aproveita-se da mudança de atitude dos mercados perante a nova postura do BCE para se retirar sem assumir as responsabilidades pela incompetência dos seus técnicos, designadamente, dos três palermas (cinco com os dois do FMI que foram escondidos). Portugal não resolveu nada, não pagou nada, não reformou nada e chegará a 2015 pior do que alguma vez esteve. Passos vai tentar voltar a ser governo e utilizará a situação a que conduziu o país para retirar os direitos que não conseguiu retirar e para voltar a tentar destruir o pouco que resta da Constituição.