


Cata-vento, Vila Viçosa


Paulo Portas
Poderia dizer-se que o coordenador da área económica do governo evitou perturbar o festivo congresso do PSD com dados relativos ao desemprego, ao contrário do que sucedeu à um mês, quando Paulo Portas, o Lambretas e a Santinha da Horta Seca iam esgotando os foguetes. Mas o congresso acabou, a presidente do parlamento já recuperou de tanta gargalhada, o cata-vento oficial do regime já regressou ao topo do telhado da TVI e aquelas três personagens responsáveis pelo pelouro do emprego (que em Portugal é antes desemprego) não foram vistas nesta segunda-feira, optaram por um desaparecimento estratégico.










Pelo que se ouviu no discurso de Marcelo o vento desta vez soprou da direita.



Viu os milagrosos resultados do desemprego que o o IEF divulgou a meio do fim-de-semana?




«O PSD reuniu em congresso, e cumpriu-se a liturgia própria da maior parte dos congressos partidários. Deste ou de qualquer outro partido, o que tem transformado a política num assunto de crentes. Neste fim-de-semana, o líder do partido e primeiro-ministro, rodeado de párocos, frades e abades, de arcebispos, bispos e cardeais, que se desfizeram em aplausos, como quem acumula pontos para os trocar por lugares no partido e no Estado, anunciou, como na liturgia dos católicos romanos, a entrega e o sacrifício do PSD para a salvação dos homens e do país. Fica por saber se o que foi dito no espectáculo mediático, que rodeou o conclave, ultrapassou as paredes do convento das Portas de Santo Antão e chegou ou não ao rebanho.
Apesar dos rituais, os congressos do PSD, mais do que qualquer outro partido nacional, reservam-nos sempre uma surpresa. Ainda hoje se fala na aparição num congresso, no Casino da Figueira da Foz, em 1985, de um economista, que nada tinha a ver com política, na altura entretido a instalar a Universidade Católica, no Porto, que foi até ao Casino, fazer a rodagem do seu novo carro, meteu uma moeda na máquina e saiu-lhe a presidência do partido, mais dez anos de primeiro-ministro e outros tantos de Presidente da República. Desta vez, tudo correu mais comedido porque os tempos não estão para tanta sorte. A celebração do Coliseu traduziu-se numa imprevisibilidade, numa surpresa e, por fim, numa inevitabilidade já antes anunciada.
A imprevisibilidade. A proposta de Passos Coelho para que o esquecido Miguel Relvas, que foi corrido do governo por indecente e má figura, e equivalências a mais, encabeçasse a lista ao conselho nacional do partido. Trata-se de uma tentativa de ressurreição de um defunto político, que foi enterrado por nada abonar a favor da nobre arte da política. E, assim, estalou o verniz da almejada recuperação da "matriz fundadora social-democrata" do PSD, tão procurada, por motivos eleitorais, neste congresso. Até os próprios congressistas, gente devota, encarregados de pastorear o rebanho, se indignaram com tal ressurreição proposta pelo líder do partido. Só 179 dos mais de 1700 homens de fé presentes se renderam ao milagre.
A surpresa. Marcelo Rebelo de Sousa, preterido por Passos Coelho, na sua moção ao congresso, como candidato do partido às próximas presidenciais, apareceu no Coliseu. De improviso. Decidiu-se durante uma viagem de avião - disse. Ele que tão grande contributo deu à fundação do PSD sentiu--se comovido pela celebração dos 40 anos do seu partido. Não podia deixar de estar presente. Mesmo que, na sua cabeça, tudo estivesse preparado há semanas, fez uma intervenção que marcou o congresso. Apesar do estilo coloquial, pretensamente emotivo e afectivo, mas muito estudado e estruturado, amesquinhou ou reduziu à mediocridade todas as intervenções anteriores. Nalguns casos, demonstrou que muitos cardeais são patetas. E, por isso, saiu em ombros do congresso, depois de uma volta à praça. O que diz duas coisas sobre esta celebração litúrgica: Passos Coelho só lidera o PSD porque é primeiro-ministro e que o comentador político mais popular do país só não é candidato às presidenciais se não quiser. Mesmo contra a vontade do líder do seu partido.
A inevitabilidade. Passos Coelho fez deste congresso o arranque oficial de uma prolongada campanha eleitoral. Está a jogar para linha, nas próximas europeias, mas a pensar em fazer bingo nas legislativas de 2015. Como em equipa que ganha não se mexe, vai repetir a fraude da última campanha eleitoral. Tal como disse a uma miúda de 15 anos que nunca retiraria o subsídio de Natal aos pais, vai agora falar do "milagre económico" e do "país de sucesso" que resultou, passados três anos, das suas políticas de austeridade. Vai falar da balança de pagamentos, das exportações ou do desemprego com a mesma desenvoltura com que disse que só iria cortar nas "gorduras do Estado". A narrativa política está construída e foi dita neste congresso: " A vida dos portugueses não está melhor, mas o país está".
PS - A oposição - as oposições - têm de fazer mais do que têm feito para desmontar mais estas falácias.» [i]
Tomás Vasques.

«No sábado, Marcelo Rebelo de Sousa, o malhador, entrou no Coliseu. O malhado, Passos Coelho, começou por o ouvir com cara de "deixe-me o seu contacto que logo lhe telefono". Marcelo abriu assim: "Porque é que eu estou aqui?" Por causa do espetáculo da Ana Moura não seria, só se produz para o mês que vem. Não, o espetáculo iria ser uma rábula de Marcelo, o distraído. As prometidas negas a lá ir, afinal, eram só por não se ter dado conta da data redonda do partido: "Caramba, 40 anos! Comecei a ficar comovido." Quando fica comovido, sabe-se, Marcelo desdiz-se. Não comovido, também, mas não me estraguem o raciocínio. Então, ele marchou para o Coliseu, tão discreto como há 40 anos quando arrombou de Chaimite, contou, a porta da primeira sede do PPD. Tinha, então, 20 anos e picos. Hoje, ele diz-se "velho" (leia-se: tem mais de 35 anos, com todas as implicações constitucionais para o que pode ser eleito). Fora ali, apesar dos avisos de amigos: "Vão pensar que estás a fazer-te ao piso para qualquer coisa..." Pausa. Marcelo é delicioso a fazer pausas, as pausas dele querem dizer que ele disse mesmo aquilo que quis dizer. "Vim aqui por uma razão afetiva." Em clubes, o afeto dele vai para o Braga; em sonhos, para o Belenenses. Meia hora de discurso e, no último minuto, uma hesitação: "Eu ia dizer "eleição do Presidente da República", mas isso prestava-se a más interpretações..." Com Marcelo, as más interpretações são sempre as boas.» [DN]
Autor:
Ferreira Fernandes.


«O número de desempregados inscritos nos centro de emprego, aumentou no final de janeiro, pela primeira vez, desde o verão passado. Em relação a Dezembro, o aumento foi de quase 15 mil desempregados, o maior aumento desde janeiro de 2013.
O número de desempregados inscritos nos centros de emprego portugueses em janeiro era de 705.327, mais 14.792 pessoas do que no mês anterior, segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).
De acordo com a informação mensal publicada pelo instituto na sua página na Internet, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego do continente e das ilhas representava 75,6% do total de pedidos de emprego (933.352).» [TSF]
Parecer:
Será que os foguetes ficaram molhados com a chuva ou com as lágrimas de tanto rir que a presidente do parlamento largou no congresso do PSD. Enfim, ainda bem que as gargalhadas não precisam de recurso a mecenas como os festejos do 25 de Abril.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»





