sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Mais uma Santinha da Ladeira

Com menos alarde do que a Santinha da Horta Seca a Santinha Cristas tem vindo paulatinamente a fazer passar a mensagem de que está ocorrendo um verdadeiro milagre na agricultura portuguesa, sector a que Paulo Portas dá a maior  prioridade, como facilmente se compreende pelo rico guarda-roupa e vasta colecção de chapéus com que o líder do governo do táxi (quatro ministros e um secretário de Estado a conduzir) se apresenta quando se desloca a feiras e outros salamaleques agrários.

Surpreendida pelos dados relativos ao abandono do sector agrícola em 2013 a ministra não perdeu tempo a responder, usando os dados estatísticos do costume, misturando dados de uma década, com dados mais recentes, como se os da década representassem uma tendência e os mais recentes fossem o resultado da sua governação.
  
Perante os dados a ministra veio logo dizer que há ciclos e que no terceiro trimestre há sempre uma redução de emprego. Isto é, a ministra ignora que apesar dos famosos programas de oferta de terras a jovens do CDS e do PSD e das notícias dando conta da deslocação de gente das cidades para os campo, a população agrícola diminuiu. Mas  como os dados são dados a santinha não se descose e recorre aos dados estatísticos para dizer que “menos emprego não significa menos rendimento”, recorrendo a dados de 2013 para o provar, o sector cresceu 4,8% em volume, de Setembro a Novembro as exportações cresceram 9,3% e a produtividade do trabalho agrícola cresceu 33,3% entre 2000 e 2013.
  
Isto é, em relação ao emprego a ministra sabe que há ciclos, mas em relação às exportações já o ignora e tenta insinuar que apesar da redução substancial do emprego no último trimestre de 2013 ocorreu um brutal aumento das exportações. Mas a senhora não explicou ao que se devem tais exportações, isto apesar de se saber  que na agricultura tudo é sazonal, exportação, emprego e exportações.
  
Já há algum tempo que a ministra usa e manipula os dados fazendo passar a ideia de que na Agricultura, à imagem do que sucede em todas as pastas do governo do táxi, ocorreu um milagre. De certa forma a ministra até parece ter razão, não tendo feito nada digno de nota, a não ser a dispensa dada aos funcionários para não usarem gravata a fim de poupar na energia consumida pelo ar condicionado, tudo o que de bom possa ter sucedido na agricultura só se pode dever à excelente relação entre Deus e o pessoal do CDS.
  
A ministra farta-se de invocar o aumento das exportações mas parece ignorar que em dois anos e meio de governação tal fenómeno só seria atribuível às suas rezas e promessas se esse aumento se devesse a uma repentina procura externa por folhas de couve-galega para a produção de caldo verde. Na agricultura nada sucede de significativo em tão pouco tempo sem grandes investimentos públicos ou privado e tanto quanto se sabe o investimento público no sector é digna de uma caixinha das esmolas, isto para usar uma linguagem financeira mais acessível.
  
Um bom exemplo do milagre das exportações e que não raras vezes é exibido pela ministra é o do aumento da exportação de azeite. O que a ministra se esquece sempre de dizer, neste como noutros sectores, é que o aumento das exportações resultou da plantação de  vastos olivais num tempo em que a ministra ainda não sabia distinguir uma alface de um repolho. A ministra passa o tempo a chamar a si o sucesso de alguns sectores, escondendo que na maior parte dos casos está perante o resultado de investimentos do tempo do maldito Sócrates.

O que a ministra faz mais não é do que revelar-se uma excelente aluna de Paulo Portas, a única diferença é que não é tão descarada como o chefe que mudou o nome ao Magalhães para melhor o exibir como sucesso da sua diplomacia económica. Convenhamos que seria demasiado ridículo.

PS: Um deputado francês do parlamento europeu acusou a troika de meter uma pistola à cabeça dos países vítimas da sua intervenção. Tem toda a razão em relação à Grécia e à Irlanda. No caso português o primeiro-ministro não foi vítima dessa ameaça, foi ele que imitando um famoso participante num concurso televisivo berrou “Ponha! Ponha! Ponha!”.