quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Asfixia quê?

Começa a ser preocupante o meu desinteresse em torno do interesse nacional, de nada serve argumentar, provar a incompetência, propor alternativas, o país tem um governo que mais se assemelha a uma seita religiosa do que a um governo que emana de um parlamento democrático. Veja-se  o caso das obras de Miró, o governo não deu qualquer explicação para as suas opções e até se escudou atrás de uma empresa pública, e quando finalmente o secretário de Estado da Cultura vimos um funcionário de Passos Coelho dizer banalidades, dar golpes baixos e usar de uma argumentação que revela uns palmos abaixo do padrão de inteligência e capacidade argumentativa do que se espera de um governante de uma qualquer república das bananas.

A situação é bem mais grave do que a falta de diálogo ou de convergência de que alguns tanto falam, é bem pior do que isso, Passos Coelho e os seus não se limitam a desprezar as opiniões da oposição, isso é mau mas não é grave pois o governo tem legitimidade para governar, ainda que seja questionável se essa legitimidade ainda exista se o programa eleitoral foi um embuste. O governo não se limita a desprezar as ideias da oposição, se é que quer uns, quer os outros têm ideias, o desprezo despreza a opinião da sociedade, ignora os sentimentos da população.
 
De nada serve haver a percepção de que o povo discorda desta ou daquela medida, o governo despreza totalmente a opinião dos portugueses convencido de que agora faz o que quer e quando tudo estiver esquecido recorre a esquemas de propaganda para manipular a opinião pública, contando com isso com jornalistas comprados pelas benesses governamentais ou pelos orçamentos publicitários das empresas amigas e beneficiárias do poder, o que actualmente deverá representar mais de 80% dos investimentos publicitários.
 
Um bom exemplo de como a máquina de propaganda governamental conta com o apoio de empresários amigos é o tea party português, a fundação de Manuel dos Santos. O merceeiro holandês recusa-se a pagar taxas alimentares, beneficia de mais de 80 milhões de euros em benefícios fiscais, vai ser um dos mais favorecidos com a descida do IRS e ainda recorre ao esquema dos benefícios fiscais das fundações para criar o maior embuste intelectual do país. Se juntarmos à Jerónimo Martins, a banca que é a beneficiária das política governamentais, empresas que beneficiam da protecção do poder como as energias ou as telecomunicações, percebe-se que à oposição pouco mais resta do que as redes sociais para responder a este uso da propaganda que faz recordar outros tempos e regimes tenebrosos.
  
Antes de Passos chegar ao poder os governos eram sensíveis às opiniões que se faziam ouvir, os debates tinham impacto na acção governamental. Agora o governo ignora tudo e todos e mesmo os debates a que têm de ser sujeitos alguns diplomas governamentais são ignorados. O governo chama os sindicatos mas não considera nenhuma das suas propostas, ignora o que se diz na opinião pública, despreza-se o povo. Em Portugal há um visionário que é detentor da única opinião e a que todos devem obedecer.
 

Neste ambiente de nada serve opinar, Paulo Portas sintetizou a realidade ao responder às críticas Mário Soares dizendo que em democracia as opiniões expressam-se no voto, isto é, durante a legislação não só a nossa opinião não conta como temos o dever cívico de ficar calados. Enfim, talvez o deputado Montenegro que acusou Sócrates de asfixia democrática possa agora caracterizar esta nova situação em ao povo não serve de nada pensar e ele faz de palhaço governamental pois ele não é deputado para dizer o que pensa, só pode pensar porque precisa de pensar o que Passos Coelho deverá estar a pensar e depois dizer o que Passos pensa para nós ficarmos a pensar que ele pensa alguma coisa.