Sabe lá Deus porquê, o congresso do PSD foi profícuo em manifestações de apego ao que muitos insistem designar como “social-democracia”. Num tempo em que Passos Coelho promove em Portugal uma política de fazer inveja a Augusto Pinochet e aos Chicago Boys, muita gente tentou passar a ideia que aquele partido continua a ser social-democrata, coisa que, aliás, nunca foi. O PSD nasceu PPD no berço da ala soft do regime fascista e por puro oportunismo mudaram-lhe o nome para PSD.
Passos Coelho é tudo menos social-democrata, Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite não passam de cristãos conservadores, PSá Carneiro era de direita senão não estavam armados em fascistas liberais na Assembleia Nacional de Marcelo Caetano, Marques Mendes nem sabe o que é e Santana Lopes nunca passou de um bandalho ideológico.
Um dos discursos que melhor retrata ideologicamente este partido que tem uma designação que se trata de uma contrafacção foi o de Fernando Costa, vereador do PSD na autarquia de Loures. Comentando a sua relação apaixonada com Bernardino Soares, o agora presidente da Municipal de Lisboa, o vereador do PSD Fernando Costa que protagonizou a coligação entre o PSD e o PCP em Loures dizia que “Sá Carneiro está descansado porque sabe que é mais fácil ele vir para a social-democracia do que eu ir para o marxismo”, divertindo a plateia.
Temos, portanto, um senhor que diverte os seus pares exibindo a sua própria ignorância, alguém mais culto do PSD devia explicar a esta pobre alma que a social-democracia é e sempre foi uma corrente do marxismo e se o Sá Carneiro não dá voltas na campa não é por ele não ter aderido ao marxismo, é porque um alto responsável do PSD é um ignorante convencido de que ser social-democrata é ser anti-marxista.
Aliás, o pobre senhor mal sabe que o maior ódio ideológico por parte dos comunistas mais conservadores nem sequer é em relação à direita, é sim em relação à corrente social-democrata, e mais do que a preocupação com o interesse de Loures é esse ódio comum ao PS que serviu de argamassa de uma coligação que de tão sólida até é festejada no congresso do PSD. Talvez o vereador do PSD tenha razão e um dia o agora admirador da Coreia do Norte venha a aderir ao PSD, nem sequer seria o primeiro ou o último a fazê-lo, quando se muda do PCP para o PSD nem sequer se muda tudo, mantém-se o ódio à social-democracia.
O incrível de tudo isto é que um partido que na Europa pertence à aliança de todos os partidos da direita, tendo lá entrado pela mão do seu actual parceiro de coligação, insista em considerar que em matéria de ideologia o Carnaval são 365 dias, sustentando esta contrafacção partidária que é dizer que os herdeiros da ANP, uns mais liberais do que outros, são social-democratas. O ridículo chega ao ponto de Passos Coelho ter ido perguntar aos militantes de um partido que se diz ser social-democrata, se são de esquerda ou de direita.
Fazer a pergunta de Passos Coelho é a mesma coisa que perguntar a um vendedor da Feira do relógio se a camisola que está vendendo é ou não da Lacoste. O PSD está para a social-democracia como as camisolas que são vendidas na Feira do Relógio estão para a Lacoste.