O governo decidiu mais uma vez que os portugueses são demasiado
gandulos e consumidores para que o país possa brincar ao Carnaval, ofendendo os
sentimentos dos alemães, eu se sentiriam mal dispostos se nos andassem a dar de
comer para depois irmos brincar em vez de trabalhar. Mas a generosidade do
nosso primeiro-ministro não tem limites e em vez de uma festa de três dias
deu-nos uma festa de semanas, tudo começou com o milagre económico anunciado
pela Santinha da Rua da Horta Seca mal chegou ao seu altar e, desde então, o
país tem vivido em festa.
Na agricultura multiplicam-se os fenómenos do Entroncamento
e a Dona Cristas conseguiu que as nossas couves galegas dessem azeitonas e
graças ao fenómeno a ministra do CDS conseguiu que Portugal fosse um grande
exportador de azeite, de um dia para o outro. A Santinha da nossa devoção foi
às estatísticas, calculou as percentagens e descobriu que graças à sua
influência as exportações estavam crescendo desde 2010. O milagre foi de tal
dimensão que um país à beira do segundo resgate tem agora dinheiro para
contratar empréstimos para ter dinheiro em 2015 quando ainda nem sabe como vai
pagar as despesas de 2014.
De um dia para o outro o país ficou devoto da Santinha da
Horta Seca, já ninguém se lembra da nossa saudosa Santinha da Ladeira, até já há quem pense em mudar a estátua do Camões
para o Intendente, até porque o poeta sempre gostou de putas e ramboia,
libertando o Chiado para uma catedral capaz de receber a romaria dos que se
converteram à nova milagreira da Nação. O culto até já chegou a paragens
longínquas, os milagres da Santa já tiveram destaque no Financial Times, gente
protestante pouco dada a santinhas. Até o finlandês Olli parece discordar dos
seus pares da Comissão e já veio em romaria falar do milagre.
Em vez do Carnaval pagão das bebedeiras e das orgias pagãs o
país entrou nos eixos, seguiu o exemplo do administrador das cervejas que de
despojou das riquezas e honrarias para andar por esse mundo fora anunciando o
milagre que fez em Portugal. O seu empenho no anúncio da boa nova é tal que À
pobre Santa não resta tempo para fazer mais nada.
Os portugueses sabem que daqui a vinte anos terão emprego,
aqui a três décadas talvez se aposte na ciência, que as auto-estradas servirão
para jogar às caricas, mas estão tão felizes que nem querem ouvir falar de
carnavais, isso de marchas com as mãos encostadas ao cu do que vai à frente,
enquanto o comboio apita é coisa para gente como o Marques Mendes ou o Seabra,
o povo crente acredita na Santa e um dia destes vai em romaria a Massamá tal
como os andaluzes vão à Virgem del Rocio.