O mínimo que se espera do governo, do líder da oposição ou das organizações internacionais que integraram a troika é que procedam a uma avaliação rigorosa do que se fez em Portugal, dos resultados conseguidos e dos custos, económicos, financeiros e humanos que o país suportou. Se o presidente está assim tão empenhado no país cabe-lhe propor que se faça tal avaliação, até porque não faz sentido quaisquer consensos sobre o pós-troika assentes no pressuposto de que aquilo que se fez foi o adequado ou um resultado automático do memorando ou das exigências da troika.
A brutalidade das políticas adoptadas teve fortes consequências na economia, na sociedade e na qualidade de vida e saúde de muitos portugueses, centenas de milhares de portugueses foram forçados ao desemprego, dezenas de milhares de pequenos empresários foram levados à falência, muitas famílias ficaram divididas em consequência da emigração forçada, muitos portugueses viram a sua qualidade de vida degradar-se pelas carências alimentares, pela incapacidade de acederem aos cuidados de saúde devido à falta de recursos para aquisição de medicamento ou para o pagamento dos exames de diagnóstico.
Portugal foi arrasado por um processo com consequências que em muitos aspectos são comparáveis a uma guerra e chamar sucesso a um crescimento económico de 0,1% ou festejar um défice de quase 6% é gozar com os muitos milhares de portugueses que perderam qualquer esperança no futuro e que foram sacrificados em nome da incompetência dos técnicos da troika ou da paranoia político-ideológica de um primeiro-ministro mal preparado, mal habilitado e sem um mínimo de sensibilidade social.
Começa a ser tempo de conhecer o preço que os portugueses pagaram pelas exigências da troika, pelo excesso de troikismo, pelo experimentalismo económico e social. É importante distinguir o que seria o custo do memorando do que foi o custo das paranóias irresponsáveis de Passos Coelho, importa avaliar o que resulta das opções económicas de um caminho de austeridade daquelas que teriam de ser suportadas por um governo competente, sem um ministro das Finanças que de num dia é o ideólogo do regime e no dia seguinte desapareceu deixando uma carta digna de um suicida.
É mentira que o país tenha voltado a ser um oásis, é mentira que as opções de política económica adoptadas pelo governo tenham resultado em exclusivo do memorando, é mentira que a renegociação do memorando feita sucessivamente em segredo resultou apenas das exigências acrescidas da troika. Tudo isso foi mentira, da mesma forma que foi mentira que tenham sido encontrados desvios colossais, que a reforma da legislação laboral criaria empregos, que as grandes obras seriam abandonadas por falta de dinheiro, que os sacrifícios não seriam esbanjados pelo eleitoralismo.
É tempo de se fazer uma avaliação do que sucedeu e ficar-se a saber o preço que o país e o povo pagaram pelo experiências de alguém mal habilitado e sem qualquer preparação, o preço por um liberalismo da treta que apenas serviu para encobrir o roubo colectivo dos portugueses para ajudar a banca e as grandes empresas monopolistas.