A Procuradora-geral festeja uma decisão condenatória em massa num processo judicial cuja acusação resultou de um processo de investigação conduzido por um seu irmão e que teve a designação de Face Oculta, numa clara sugestão que todos os portugueses perceberam.
Na Assembleia da República os deputados fazem comissões de inquérito para brincarem ao juízes e aos réus como se fossem meninos e meninas a brincarem aos papás e às mamãs. Ignorando que a prioridade do parlamento devia ser a sua dignificação os nossos deputados transformam São Bento na Aldeia da Roupa Suja onde se fazem julgamentos em que se o réu for da maioria é sempre inocente, se for da oposição é certo e sabido que tem tanto direito de defesa como um traficante de droga no Irão.
Quando foi criada a comissão parlamentar de inquérito aos submarinos a direita encheu-se de peito e concordou logo, só exigiram que outros negócios militares fossem igualmente “investigados”. Agora que andam com medo de que o Ricardo Salgado meta a boca no trombone querem encerrar o processo à pressa e já se sabe qual vai ser o veredicto destes magistrados de brincadeira, o governo de Durão Barroso está inocente por decisão da maioria.
A meio do terramoto dos tribunais que implodiram por causa de uma ministra bomba que se fez explodir com um cinto cheio de cargas de incompetência, imbecilidade e arrogância, a ministra vai a uma reunião de magistrados, mandar indirectas a um Cavaco Silva que evitou dar a cara e aproveita para sugerir aos juízes que lhes vai dar um jeito na remuneração. Por outras palavras, no meio de um sistema judicial que ela própria fez implodir tenta comprar os juízes com umas alcagoitas orçamentais a distribuir com o novo estatuto dos magistrados. Portanto já sabem senhores juízes e magistrados do MP, portem-se bem com o governo porque vem aí uma gorjeta, façam o favor de estarem calados e arrastarem eventuais investigações mais incómodas.
A confiança na justiça é uma tradição de séculos e durante muitos anos foi uma instituição respeitada pelos portugueses. Em duas décadas uma geração de políticos e de magistrados transformaram a não só a justiça mas também a ideia de justiça num espectáculo degradante.
Ver a ministra dizer aos magistrados que lhes vai dar uma gorjeta, assistir a uma comissão parlamentar de inquérito, ouvir a Procuradora-Geral festejar uma decisão de um tribunal de primeira instância, abrir um jornal e ser confrontado com uma violação do segredo de justiça, assistir em directo na TV um juiz entrando armado em cowboy num parlamento para prender um deputado, são coisas que nos enchem ou deviam encher-nos de vergonha.