quarta-feira, outubro 08, 2014

Uma pouca de merda

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Parece que o excesso de troikismo fez algumas vítimas colaterais e o mesmo Cavaco que em tempos tinha tiques populistas criticando os elevados salários de alguns gestores, agora que é admirador dos Horta Osórios e é um combatente militante contra o populismo, está preocupado com os magros salários dos políticos.  Digamos que já não são os gestores que ganham demais, são os políticos que ganham de menos.
  
Quase ao mesmo tempo, os juízes dizem que não ganham em conformidade com a dignidade e uma ministra acordada com uma crise na justiça e sem os ditos em su Citius promete-lhes o bodo logo que lhes altere o estatuto, isto ainda que tenham sido o único grupo profissional a ter uma saída limpa da austeridade, com um aumento chorudo para os que assumiram novos postos com o mapa judiciário citiado. Já com os professores mal pagos, contratados para horários reduzidos a centenas de quilómetros de casa já ninguém se preocupa e podem ser despedidos de forma sumária com a promessa de um possível emprego do outro lado do mundo, se isso não se concretizar pouco importa pois os malandros passaram à frente dos colegas e merecem um justo castigo. Os professores têm a alcunha dos meias-doses, os juíze querem ser conhecidos pelos duas doses.
  
Parece que a os magistrados são coisa fina e talvez por isso há dois anos atrás reuniam-se num luxuoso hotel de 5 estrelas pertencentes ao agora maldito BES, onde os e as consortes se deleitaram com um programa digno do estatuto graças ao alto patrocínio do BES. Parece que mandar um pilha galinhas para a prisão exige uma dignidade da qual deve ser dada prova pública com bifes do lombo, gravatas de seda e carros de luxo de marca alemã. Ninguém leva a sério um juiz que não use fato do Rosa &Teixeira, que não almoce no Gabrinus e que ande com um carro tipo Pedreira dos Húngaros. A dignidade dos magistrados tem a sua própria cotação.
  
Já o cirurgião que salva a vida dos cidadãos e que estudam até aos trinta anos têm uma profissão menos digna, não havendo o risco de os parentes caírem na lama. Coisa estranha, dantes um juiz estava entre um sargento-ajudante e um capitão em princípio de carreira enquanto os médicos para serem ricos bastava-lhes serem-no de clínica geral. Agora as coisas inverteram-se, os médicos especialistas ganham menos que o motorista do Belmiro de Azevedo e os juízes exigem ser as prima donas do Estado. E ai dos políticos se não lhes fizerem a vontade, o primeiro a fazer de face oculta leva pela medida grossa.
  
Mantém-se a política ilógica que leva a que a média dos vencimentos do Estado se aproxime do vencimento de uma fisioterapeuta para que não se fiquem a rir dos remediados e remediadas de Massamá e é o salve-se quem puder. A ministra da justiça está borrada e promete um estatuto especial para os meritíssimos ao mesmo tempo que lhes dá uma gorjeta, o Cavaco quer dividir a classe política e sugere que os que temos não prestam pois são os que aceitam ser mal pagos. Ficamos a saber que tirando os políticos e os magistrados, todos os outros que trabalhem em funções públicas mais não são do que uma pouca de merda.

Um professor pode ir para longe a troco de meio salário, o pobre pode ter de alimentar a família com o salário mínimo, o médico pode fazer cirurgias ganhando 10€ à hora, mas os nossos políticos com cursos tirados com requerimentos ou licenciaturas da treta na Luísiada têm de ganhar de forma condigna, escapando-se à austeridade de todos os outros. Não estamos perante uma aliança de ocasião entre os que têm receio de serem presos e os que podem prender?