terça-feira, outubro 28, 2014

Umas no cravo e outras na ferradura



   Foto Jumento


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Janela de Alfama, Lisboa
  
 Jumento do dia
    
Pedro Passos Coelho, misturador ocasional de política com negócios

Quando ainda há bem pouco tempo o governo enterrou mais de quatro mil milhões do BES e ainda recentemente reforçou o fundo de resgate em mais 1,5 milhões com o argumento esfarrapado de uma norma do OE2014, quando este montante é precisamente aquele que o El País aponta como necessidade de reforço do capital do BCP, como é que Pedro Passos Coelho pode afirmar estar tranquilo nem relação à banca portuguesa.

O mesmo primeiro-ministro que em relação ao BES, de que já está esquecido, se limitou a comentar que não misturava política com negócios, agora já parece estar bem informado sobre o que o BCP tem feito.

Esperemos para ver se alguém responde ao El País que aponta para a necessidade de reforço do capital do BCP em mais de 1 milhão de euros para que não fiquemos a pensar que o mesmo BCP que fazia exigência de venda apressada do Novo Banco não vai agora ao dinheiro do fundo para salvar um banco onde o bom e o mau nunca foram separados.

«O primeiro-ministro português garantiu estar “tranquilo” quanto ao trabalho que foi feito pelas instituições bancárias em Portugal, que provaram que “a banca portuguesa, afinal, está em melhores condições de que muitos outros bancos” do espaço europeu. Passos Coelho falava aos jornalistas, esta segunda-feira, no Palácio de Santana (Ponta Delgada), à margem da reunião com o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro.

Referindo-se especificamente ao caso do BCP, que este domingo chumbou no cenário mais adverso dos testes de “stress” conduzidos pelo Banco Central Europeu e pela Autoridade Bancária Europeia, Passos Coelho lembrou que os dados sujeitos a análise eram respeitantes ao ano de 2013, mas que “em 2014 já foram tomadas medidas que respondem praticamente a todas as preocupações demonstradas”.

Garantindo, mais uma vez, que o BCP “não precisa de proceder a nenhum aumento de capital”, Pedro Passos Coelho afirmou ter esperança que “à medida que o mercado se for apercebendo [do trabalho feito pelo banco em 2014] o impacto negativo deste chumbo vai-se esbatendo”.

Passos Coelho lembrou, ainda, que as medidas tomadas pelo BCP “já permitiram ao banco pagar uma parte muito significativa do dinheiro emprestado pelo Estado” e que, mantendo-se os prazos previstos, o dinheiro que os contribuintes emprestaram ao banco será, em breve, devolvido.» [Observador]

«O Governo, através do Orçamento do Estado, injetou ou prevê injetar ainda este ano mais 1500 milhões de euros no fundo de resolução que salvou o BES da falência, indicam valores que constam na proposta do OE/2015.» [DN]

«BANCO COMERCIAL PORTUGUÉS (BCP). Capital del 10,3% tras al revisión y del 8,8% en el escenario base, lo que sería aprobado, pero del 3% en el adverso. La necesidad de capital, de 1.140 millones, no solo no se ha visto reducida, sino que se ha incrementado levemente en 2014, hasta los 1.150 millones.» [El Pais]

 Cavaco a condecorar Sócrates?

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Família (Real) dos Ilvas nos jardins do Palácio

Ascenso Simões primeiro e agora Manuel Alegre vieram a público criticar Cavaco Silva por não condecorar José Sócrates, seguindo uma tradição de condecorar todos os primeiro-ministros. Acho que Sócrates só tem a ganhar se a condecoração lhe for entregue por um Presidente da República com letra grande e se Cavaco tomasse a iniciativa de o condecorar até devia recusar-se a comparecer perante tal personagem. Não ser elogiado ou condecorado por Cavaco Silva só honra os que foram maltratados por alguém sem dimensão para o cargo para o qual foi eleito.

Há gente com quem eu nunca tiraria uma selfie e um exemplo disso é Cavaco Silva.

 Os lorpas

Uma das características dos membros deste governo é pensarem que os portugueses são uns lorpas e não só o pensam como não conseguem deixar de ter comportamentos reveladores do menosprezo pelo cidadão comum e no caso do infeliz primeiro-ministro vai mais longe e de vez em quando lança um adjectivo novo.

Veja-se o exemplo da ministra da Justiça, começou por dizer que tudo estaria resolvido antes do fim da manhã do dia em que lançou a reforma, depois era ao fim da tarde, passou a ser ao fim de uma semana. A grande reforma adiada durante 200 anos teria os seus custos, depois tudo passou a ser um contratempo e agora descobriu que houve uma conspiração por parte dos que querem a continuação da impunidade. E como os portugueses são uns idiotas encomendou ao director do serviço responsável pelo Citius um relatório onde se apontam uns fantasmas que agora serão caçados pelos super poderoso Ministério Público. Daqui a uns anos tudo estará arquivado e ninguém se lembrará da senhora.

Paulo portas saiu derrotado no seu estatuto de defensor do contribuinte e alguém lhe sugeriu uma solução absurda, a criação de um crédito fiscal com base no qual promete um reembolso de IRS se a receita fiscal atingir um nível quase absurdo. Como a proposta mereceu uma gargalhada colectiva Paulo Portas descobriu que os portugueses já poderiam ter beneficiado do crédito fiscal na totalidade da sobretaxa de IRS paga durante este ano. Isto é, o espertalhão não conseguiu baixar a sobretaxa em 1%, mas sugere que com este mecanismo ela teria sido eliminada. Não seria melhor fazer como fez a ministra e encomendar ao director-geral da AT um relatório que apontasse para eventuais culpados por não ter sido criado o crédito fiscal?

Ultrapassada  a estratégia do “desculpa-me” Passos promoveu a nova estratégia de comunicação assente na ideia de que “eles são uns lorpas”. São tão lorpas que estavam convencidos de que comentadores como Marques Mendes, Ângelo Correia, Manuela Ferreira Leite, Marcelo Rebelo de Sousa ou jornalistas como o Jorge Ferreira, o Camilo Lourenço ou o António Costa era gente do BE. Desde o Observador ao DE é tudo gente ligada à oposição e que por preguiça ou ignorância não viram as virtudes de um OE amigo das famílias, que alivia a austeridade, que assegura o rigor, que promove o crescimento, que reduz alguns impostos.

Os portugueses são uns lorpas.

      
 Marcelo descobre o óbvio
   
«Marcelo Rebelo de Sousa acredita que Passos Coelho chegou a um ponto em que pode estar “a caminho do fim”, uma vez que a crítica à comunicação social “não é um bom sinal” quando dito por um primeiro-ministro.

No comentário habitual na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa comparou a crítica de Passos Coelho às feitas por Cavaco Silva, quando este lembrava as “forças de bloqueio” ou até as feitas por Mário Soares e José Sócrates. “Normalmente é um sinal de caminho para o fim”, disse. Para Marcelo, estas palavras – Passos Coelho chamou alguns jornalistas de “preguiçosos” nas jornadas parlamentares do PSD/CDS – são um “sinal de alguma debilidade” e o facto de uma pessoa “tão racional” como Passos o fazer “não é um bom sinal”.

Mas Passos Coelho continuou a ser alvo de Marcelo ainda por outras questões, sobretudo no que diz respeito à escolha do candidato presidencial a apoiar pelo PSD. Marcelo Rebelo de Sousa descarta Durão Barroso como candidato presidencial, defendendo a tese que o ex-presidente da Comissão Europeia “não tem as condições ótimas para ser candidato presidencial”. No xadrez presidencial, Marcelo põe-se (meio) afastado dizendo que quem tem “melhores condições” é Santana Lopes.» [Observador]
   
Parecer:

Marcelo aproveitou a ocasião em que conclui que Passos caminha para o fim para lançar Santana Lopes como candidato presidencial.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
  
 Ministra da Cultura pouco culta
   
«Foi numa entrevista no Canal+ que a apresentadora colocou Fleur Pellerin, a ministra da Cultura de França, numa posição desconfortável. Quando lhe foi perguntado qual o seu livro favorito de Patrick Modiano, Nobel da Literatura, a ministra começou por hesitar e acabou por admitir não ter muito tempo para ler.

"Admito sem qualquer problema que não tenho tido de todo tempo para ler nos últimos dois anos. Leio muitas notas, muitos textos legislativos, as notícias, os despachos da AFP, mas leio muito pouco", admitiu a ministra da Cultura, perante o ar visivelmente chocado da entrevistadora.

"Mas é preciso arranjar um momento para isso, é muito importante ler um pouco de literatura, senhora ministra", insistiu Maïtena Biraben, a entrevistadora do Canal+, causando algum desconforto em Pellegrin.» [DN]
   
Parecer:

Até parece o Cavaco.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»

 Até tu Ulrich?
   
«O banqueiro foi muito critico à actuação das autoridades nacionais na supervisão ao BES o que, em seu entender, ficou expresso no descontrolo consentido da exposição do BES ao BESA que foi alimentado por uma linha de financiamento aberta por Ricardo Salgado, então presidente do BES, sem limite e prazo e sem que os financiamentos tivessem um beneficiário. “Em Dezembro de 2007 o BES tinha créditos sobre o BESA de 25 milhões de dólares, em 2008 já eram de 2000 milhões e em 2013 acima de 4000 milhões.” “Estava tudo nos relatórios e nos balanços” do BES e do BESA, notou Ulrich. “É extraordinário” que o Banco de Portugal (BdP) e o conselho de administração do BES tenham “permitido a exposição de crédito tão forte e durante tanto tempo”, avançou.  

Daí salientar que “os supervisores angolanos devem ter-se inspirado nos portugueses [BdP]”, que possibilitou a exposição de crédito descontrolada e prolongada do BES ao BESA, para aceitarem o que se estava a passar. “Não se tratou de um apoio de tesouraria ao BESA. É legítimo perguntar: Como foi possível um banco em Portugal ter um montante de crédito tão elevado a uma participada [o BESA é controlado pelo BES]? Como foi possível pactuar com a situação” que vai sair cara “aos accionistas dos bancos portugueses?”, onde se inclui o banco público, a CGD.» [Público]
   
Parecer:

Até quando vai resistir o governador do BdP a um pedido de demissão.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Ofereça-se uma BIC ao governador, pode ser que a sua caneta esteja sem tinta.»
  

   
   
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