terça-feira, julho 14, 2015

Graxa e Grexit

As grandes diferenças entre o Syriza e a direita portuguesa é que enquanto os radicais gregos apostaram numa estratégia que ao longo de cinco meses apostou no “grexit”, a direita portuguesa preferiu apostar na “graxa”. Os resultados estão à vista a senhora Merkel conseguiu impor agora à Grécia algumas medidas que Portugal. Passos Coelho até se poderia gabar de que também foi ideia sua curvar-se enquanto falava com modestos funcionários das troika, da mesma forma que foi também ideia sua ir além da troika. Aquilo que foi imposto à Grécia foi mais ou menos aquilo que Passos Coelho adoptou sem que lhe tivesse sido feito qualquer ultimato.
  
Ultrapassada a crise grega podemos concluir que Portugal está melhor do que a Grécia, estão ambos nos cuidados intensivos, mas enquanto a Grécia está entubada Portugal já respira pelos seus meios, ainda que esteja monitorizado e sob atenção permanente. Quanto à doença é com e é crónica, ambos os países sofrem de divida soberana excessiva. A Grécia vai aplicar contra a vontade do seu governo algumas medidas que cá foram adoptadas por terem sido ideia de Passos Coelho, como ´o caso do IVA dos restaurantes, da privatização ou dos corte nas pensões.
  
Se compararmos bem os resultados concluímos que entre a estratégia da graxa de Pedro Passos Coelho e a chantagem do grexit conduzida por Tsipras não há grande diferença quanto a resultados. Nada se diz sobre a forma de resolução do problema da dívida, ignora-se a necessidade de retomar o crescimento, desprezam-se as consequências sociais. Os países ricos estão ganhando com a crise, afastada uma reestruturação da dívida os países mais ricos do euro só têm a ganhar com esta situação, os seus bancos ganham liquidez com a fuga dos depósitos dos países intervencionados, as suas economias ganham milhões com a entrada de quadros altamente qualificados com os orçamentos da Grécia e de Portugal e uma boa parte da procura interna destes países é alimentada com bens importados dos seus parceiros.
  
A solução encontrada para Portugal e que Passos Coelho teve a ideia de fazer sua é a que interessa aos países ricos do Euro e até aos seus vizinhos, como o Reino Unido. Vais-e adiando a crise e, entretanto, os recursos destes países vão sendo transferidos para o norte. Quando a Europa enfrentar a necessidade de reestruturar as suas dívidas os prejuízos que daí possam resultar serão compensados pelos lucros que entretanto foram obtidos. A verdade é que ninguém vê como Portugal ou a Grécia poderão sair deste pântano em que se estão enterrando.
  
A solução não está entre a graxa e o grexit e talvez não esteja entre mais austeridade ou menos austeridade, estes países precisam de conseguir reter os seus recursos financeiros e humanos e apostar num ciclo de desenvolvimento assente na aposta de bens e serviços com maior valor acrescentado. Isso implica investimento que absorva os quadros mais capazes e uma aposta na qualificação da mão de obra. A solução dos problemas da Grécia e de Portugal não passa apenas por contas públicas que não obriguem à asfixia da economia, não passa apenas por crescimento económico, passa por políticas de desenvolvimento que apostem na criação de riqueza.
  
Contas públicas saudáveis não garantem desenvolvimento e nem sempre o crescimento económico significa mais criação de riqueza e mais competitividade.