quarta-feira, julho 15, 2015

Mudar o nosso modelo económico

É verdade que a asfixia da procura interna não conduziu aos resultados imaginados por Vítor Gaspar, o desinvestimento em sectores como a construção não resultou num aumento de investimento noutros sectores, as reformas laborais e a desvalorização dos trabalhadores não atraíram investimento. A economia parou no tempo, o país perdeu recursos humanos valiosos e nada mudou num modelo económico que conduziu a economia ao beco em que se encontra.

O estímulo da procura interna permite a alguns sectores respirar e traduz-se em crescimento económico. Mas essa procura não só resulta num aumento das importações como estimulará o investimento dos nos bens de consumo numa lógica de substituição de algumas importações. O aumento da procura interna traduzir-se-á na procura de crédito ao consumo e os bancos tenderão a privilegiar os seus recursos no financiamento do consumo ao invés de financiar empresas cuja capacidade de recurso ao crédito está há muito esgotada.

O investimento alimentado pela procura interna, numa lógica de substituição de importações, dificilmente resultará num crescimento significativo a longo prazo, a estreiteza de um mercado de pequena dimensão e com um nível baixo de rendimento per capita por parte dos consumidores não favorecerá o desenvolvimento de empresas com dimensão para concorrerem no mercado internacional. Deve ser dada prioridade a empresas que se estabeleçam com o objectivo de exportar, de preferência empresas que apostem na qualificação e exportem bens e serviços de alto valor acrescentado.

Isso só é possível criando incentivos capazes de atrair esse tipo de empresas, incentivos que têm que ver com custos (energia, contexto, produtividade dos recursos humanos), com infraestruturas (telecomunicações, transportes, portos, aeroportos). É importante reduzir os custos de contexto, o peso da imensidão de taxas e de taxinhas, a quase inexistência de sistema judicial no domínio do direito civil, reduzir os custos abusivos dos nossos portos, dar prioridade à construção de infraestruturas orientadas para favorecer as empresas.

Infelizmente, a tentação dos nossos políticos são os resultados no curto prazo e é mais fácil conseguir crescimento económico nas estatísticas com o estímulo ao consumo, como é mais fácil reduzir o desemprego com truques ou com emigração do que com investimento. É importante repensar o modelo económico orientando os recursos escassos para sectores que não se traduzam apenas em crescimento a curto prazo e sem garantias de sustentabilidade. Não é nada de novo, há mais de duas décadas falou-se muito nos famosos clusters e com o governo anterior ficou provado que a aposta nas energias renováveis não só ajudavam a resolver a escassez de recursos energéticos como promovia um sector competitivo à escala mundial.
    
Num país com escassez de recursos naturais e com atrasos significativos em relação aos nossos parceiros da UE e, em particular, do Euro o desenvolvimento passa por sermos mais eficazes, eliminando todos os obstáculos ao desenvolvimento empresarial, desde as taxas abusivas nos portos à ineficácia de um sistema judicial que parece servir apenas para termos magistrados muito emproados. É preciso também orientar os recursos para a promoção de actividades económicas que criem mais riqueza e que proporcionem melhores condições de vida aos portugueses. Tudo isto não é possível com a política deste governo, em que o ministro a Economia nada tem que ver com as empresas, tendo optado por ser um vendedor ambulante de empresas públicas.