A previsibilidade daquilo a que se convencionou designar por “justiça” é tal que me lembra a anedota do compadre que fez os seu baptismo de voo numa avioneta e que experimentou a sensação de um looping. Quando chegou a terra o piloto perguntou-lhe o que ele tinha sentido durante a experiência. O compadre explicou-lhe que “ quando a avioneta começou a subir eu já sabia eu já sabia que me ia mijar pelas calças abaixo, quando começou a descer borrei-me todo como esperava, mas do que eu não estava à espera era que depois desse uma volta a a merda me caísse em cima da cabeça.
Já qui alertei que se a tal “justiça” sabia que Sócrates era corrupto e até já conhecia um preço o próximo passo seria encontrar a decisão pela qual teria cobrado e isso implicava envolver terceiros. Isso significava que até às eleições legislativas seria de esperar a ocorrência de mais umas prisões, desta vez de algum ministro e/ou de algum secretário de Estado que tenham emprestado a assinatura ao primeiro-ministro, já que não é costume os primeiros-ministros envolverem-se em negócios.
Parece que, pelo menos até agora, a “justiça” deixou os governantes de parte, optou por uma pista mais “óbvia”, uns tempos depois de ter constituído arguido alguém ligado ao Vale de Lobo descobriu que o administrador da CGD na ocasião era o Vara, uma espécie de corrupto para todos os serviços. Há muito que Vara leva por tabela e se o primo da China não serviu para entalar Sócrates no passado, temos os amigos ricos e ganhadores que dão mais jeito do que um monge dedicado às artes marciais.
Portanto, não me surpreendeu a entrada do tempo da justiça pelo tempo da democracia dentro tal como tinha apostado no passado. Do que não lembrei foi da possibilidade de a merda ter sido atirada pela cabeça do António Costa abaixo. É evidente que estamos perante uma mera coincidência, que a “justiça” respeita a separação de poderes e não se mete em política, bla, bla, bla, que a detenção de vara não ocorreu antes porque só agora repararam que ele tinha sido administrador da CGD. Temos de acreditar que a justiça tem o seu próprio tempo e que não passa pela cabeça de ninguém em utilizar os poderes que a democracia lhe dá pra destruir a democracia.
A detenção do vara tinha mesmo de ser naquele dia e o facto de ocorrer antes de uma entrevista do António Costa, mas como sou daqueles que não acreditam em bruxa deixo aqui um conselho aos amigos de José Sócrates ou mesmo dos amigos dos seus amigos, tenham sempre à mão uma mala das que têm as grávidas para o caso de lhes rebentarem as águas de um momento para o outro. Eu próprio já tenho medo de alguma vez ter tomado o café com algum amigo do Sócrates ou nas imediações de uma agência da CGD e garanto que quando o António Costa voltar a dar uma entrevista vou esconder-me em parte incerta.