Nos intervalos das filas do Multibanco os gregos tiveram cinco dias para servem atingidos por doses de cavalo de manipulação política, agora têm um dia de reflexão, vão ter de escolher qual a melhor das chantagens, a escolha é entre a chantagem dos países do Eurogrupo que só enviarão dinheiro para alimentar a economia grega se livrarem a Europa do(s) Syriza(s) e a chantagem do governo grego que lhes diz que ou votam no não ou levam com um pouco mais de austeridade do que aquela que o Syriza aceita. O Eurogrupo está a mando da Merkel e quer que o Euro seja o marco, o Syriza vê a oportunidade de lançar o seu projecto político.
A esmagadora maioria dos gregos não está estudando as teses do Varoufakis e do Louçã, nem lhes passa pela cabeça ler os artigos dos prémios Nobel ou os editoriais do Financial Times e muito menos ler o último relatório do FMI, para confirmar se o mesmo tem uma única frase, a que o Tsipras está usando para dizer que tem razão. A esmagadora maioria dos gregos quer saber se no próximo mês terá pensão, se na segunda-feira pode ir levantar dinheiro para comprar o almoço, se os hospitais vão ter medicamentos para tratar os doentes. Os defensores do sim dizem que isso só será possível se houver um acordo nos termos exigidos por quem vai dar o dinheiro, os defensores do não garantem que a recusa das exigências levará a um perdão de dívida e mais uma década de fartura. Os gregos dividem-se entre votar com medo dos credores ou votar convencidos de que metem medo a esses mesmos credores.
Para o Syriza o referendo não serve para perguntar aos gregos o qual as melhores soluções para os seus problemas, o referendo serve os seus resultados serem usados nas negociações, isto é, quem votar sim está cedendo ao estrangeiro e está contra a Grécia, votar em nome da Grécia é votar não, a pergunta é clara, como dizia a Helena Rioseta nem é necessário tempo para pensar, e´sim ou não, pergunta-se aos gregos se aceitam as imposições do estrangeiro. Isto significa que quem votar sim é olhado pelos seus concidadãos, pelos seus vizinhos, pelos seus colegas de trabalho, até mesmo por familiares como um traidores, como um defensor dos interesses estrangeiros.
É isto um exercício da democracia como defendem se assumem como os herdeiros da democracia da Grécia Antiga? O referendo foi convocado para exibir a vontade dos gregos aos credores e estes reagiram em conformidade, querem que os resultados do referendo sirvam para derrubar um governo eleito segundo regras democráticas. A Europa que bombardeia a Líbia em nome de uma Primavera Árabe para abrir caminho ao EI acha agora que a democracia europeia é um referendo onde os gregos se dizem amantes da Europa sob pena de o seu país ser destruído? Vamos ter uma Europa feita de Alemães do Leste que queriam comer Hamburguers da Mc Donalds, Checos que queria usar calças Lewis, gregos que queriam cair nas graças da senhora Merkel, Polacos que queriam vir a Fátima sem restrições, a Europa da democracia dá lugar á Europa da chantagem e das fantochadas eleitorais, a Europa da solidariedade e da coesão social dá lugar à Europa dos bajuladores e da caridade internacional.
É divertido ver os que por cá votaram contra o PEC IV serem agora a favor de uma proposta de austeridade do governo Grego que tem o triplo da dose de austeridade que constava naquele PEC. Por cá juntam-se personalidades dos mais diversos quadrantes em defesa do Syrisa, são, por coincidência, muitos dos que ajudaram direita e Cavaco a derrubar o governo anterior, os que se afirmavam democratas contra um primeiro-ministro autoritário, os que defendiam uma má maternidade porque os deixariam de haver portugueses no Alentejo. É lamentável que tantos democratas estejam a alinhar num peditório miserável. Agora ignora-se que em quatro dias o primeiro-ministro fez quatro discursos na televisão, fazendo lembrar o Kadafi, o ministro das Finanças deu três entrevistas e que os defensores do não quase não tiveram acesso à comunicação social e são apontados como traidores. É isto a democracia que o Manuel Alegre & Friends defende? É assim que o Passos Coelho imagina uma Europa? Desta forma indigna que o Cavaco decide quantos ficam dos 19?