Muitos dos que querendo ter uma intervenção maior na política mas optando por não se registarem num partido político acabam por ter dos partidos uma visão idílica. É suposto os partidos serem um pilar da democracia e os seus programas regem-se pelos valores ideológicos que reúnem os seus militantes em torno de um projecto comum e por uma ideia de serviço público. É esta a visão ingénua que temos da política e da vida partidária.
Os últimos anos têm sido demolidores para imagem dos partidos junto do cidadão comum e a percepção dos portugueses em relação ao que move os partidos e os interesses partidários afasta-se cada vez mais da imagem de organizações que procurando o bem comum apresentam o que julgam ser os melhores projectos para a resolução dos problemas e apoiam-se nos seus militantes mais capazes e empenhados no progresso do país.
Esta desconfiança em relação ao que anima a vida interna dos partidos leva a que sejam os políticos com mais ambições a adoptar um discurso anti-partidos, tentando criar no eleitorado a ideia que são eles que vão purificar o sistema a partir de dentro. O caso mais recente e talvez mais extremo desta estratégia foi o do António José Seguro que quando precisou de se manter na liderança do PS decidiu assumir o estatuto de virgem do sistema.
Seguro não hesitou em manchar o nome dos seus adversários sugerindo a sua ligação a negócios duvidosos e numa tentativa de fuga em frente optou por entregar aos simpatizantes do PS a escolha de um futuro líder. Tudo isto teria feito sentido se a então presidente do PS, Maria de Belém, não tivesse acumulado os rendimentos de deputada com os das gorjas do Grupo Espírito Santo a título de remuneração de pareceres no domínio da saúde, precisamente a áreas em que a então deputada tinha responsabilidades parlamentares, enquanto presidente da comissão para o sector.
Agora percebemos também que os valores do segurismo nada têm de virginais no método de escolha dos deputados pois ao mesmo tempo que se queixam de não terem a representação nas listas de deputados que permita a eleição de todas as suas figuras, não hesitam em fazer a limpeza dos adversários sempre que têm poder para isso. Vemos agora que o que move muita gente não é a solução para os problemas nacionais mas sim o acesso a uma vida fácil e que o que move muita gente da máquina partidária não é a escolha de projectos nacionais mas sim uma lógica de clãs liderados por autênticos senhores da guerra.
E enquanto à esquerda se assiste a este espectáculo onde ao mesmo tempo em que sugerem candidaturas presidenciais aparecem nos jornais os tachos que poderiam levar a uma desistência dessas candidaturas, à direita aparece um Rui Rio, um político que fez da sua carreira mais ressente uma espécie de cirurgia de reconstituição da sua virgindade. É por isso que enquanto em público fala mal do sistema, em privado faz negócios com Marco António, uma das personagens que nos dias de hoje mais se identifica com a forma de Dias Loureiro de fazer política.
Há uns anos atrás falou-se muito da refundação à direita e à esquerda, mas passada quase uma década os partidos pouco mudaram, no PCP Jerónimo de Sousa já lidera há 11 anos e apesar dos diversos disfarces mantêm um programa político do princípio do século XX, no BE mudaram as caras femininas dando lugar a caras mais jovens e bonitas, no PS continuamos a assistir ás lutas entre diversas facções da nobreza, no PSD continua a ser o poder e os seus negócios que decide e quem lidera é aquele que proporciona aos militantes mais expectativas de enriquecimento e no CDS é o eterno Paulo portas que se entretém matando politicamente todos os que ousem candidatar-se ao seu lugar.