Tenho de reconhecer que há um capítulo em que devemos tirar o chapéu a Passos Coelho e seguir a sugestão de Cavaco em relação aos indicadores de crescimento, os resultados das nossas exportações não só estão acima de quaisquer expectativas como revelam um primeiro-ministro com uma rara visão estratégica.
Ignoremos por uns instantes que o crescimento das exportações começou antes deste governo ou que fazer aumentar as exportações não é bem a mesma coisa que vender couves do dia, exige investimento nos mercados, adequação das estruturas empresariais. Uma exportação pode ser decidida de um momento para o outro, mas um aumento significativo das exportações em sectores como o calçado ou o vestuário implica contratos com pelo menos um ano de antecedência e relações de confiança que nada têm que ver com a pinta do Pires de Lima ou o sorriso cínico de Paulo Portas. Ignoremos também que que muitas exportações são circunstâncias (como é o caso das exportações de combustíveis), cíclicas (como acontece com o lançamento de novos modelos na Auto Europa) ou resultam de aumentos da procura em países terceiros (como sucedeu com Angola).
Tudo isto pode ser verdade e mesmo assim ignorado pois o sucesso do Portugal exportador de Passos Coelho deve-se principalmente à sua visão estratégica. Portugal exporta mais, não cria empregos mas destrói desempregos e consegue tudo isto sem que as empresas tenham de investir, sem que os chineses tenha criado um único emprego com os prometidos investimentos nas energias renováveis por contrapartida a venda da EDP, sem que se tenha conhecimento de um único investimento estrangeiro digno de nota e apesar da destruição do Grupo Espírito Santo e da EDP. Estamos perante um milagre digno da visão estratégica de um grande economista como passos Coelho. E como conseguiu ele operar este milagre?
Muito simples, apostou na exportação de tudo o que havia para exportar. Não havendo nem investidores nem tempo para apostar em produtos de grande valor acrescentado apostou na exportação de produtos das indústrias de trabalho intensivo, enquanto muitas empresas procuram no estrangeiro a procura que estava sendo asfixiada no mercado interno, o que sucedeu, por exemplo, com uma boa parte das empresas que se viraram para o mercado angolano.
Mas o maior o golpe de vista de Passos Coelho esteve na solução encontrada para exportar trabalho qualificado sem investir. Promover investimentos para empregar quase trezentos mil trabalhadores, entre eles muitos economistas, engenheiros, médicos, arquitectos, era uma tarefa impossível de realizar a curto e médio prazo. Na impossibilidade de exportar bens de alto valor acrescentado Passos Coelho teve a brilhante ideia de se transformar no maior exportador, um verdadeiro tigre da Europa sem criar uma única empresa e sem se investir um tostão. Em vez de exportar bens de alto valor acrescentado optou por exportar o ato valor acrescentado e deixar os bens para outra ocasião, isto é exportou mais de duas centenas de milhares de quadros.
Pode não ter criado riqueza, pode ter envelhecido o país em das décadas durante os últimos quatro anos, mas o certo é não criando emprego destruiu desempregos, não criando riqueza aumentou o rendimento per capita e ainda ficou nas boas graças da senhora Merkel que lhe está muito agradecida pelos quadros que comprou sem ter investido um único marco dos seus amados contribuintes e eleitores. Não admira que todos os ministros se tenham envolvido na diplomacia económica e se o então ministro Relvas sugeria Angola e Moçambique, há poucos dias Paulo Macedo foi á Alemanha e a pedido das autoridades locais apelou aos médicos e enfermeiros portugueses para se deixarem exportar para aquele país.