Esgotados os argumentos para esconder a azia por ver o governo controlar o défice sem ter de adotar um Plano B onde se previa que seriam tirados de novo os escalpes dos grupos profissionais e sociais que Passos Coelho detesta, o líder do PSD, fazendo prova da sua pequenez, veio com um argumento brilhante para desvalorizar o trabalho de Mário Centeno. Afinal, o défice de 2,1% não tinha sido o mais reduzido alcançado pelos governos em democracia.
Portanto, como a dupla maravilha formada por Cavaco Silva e Miguel Cadilhe tinha alcançado tal meta em 1989 o trabalho de Centeno não tinha qualquer valor. Como seria de esperar, o vaidoso Miguel Cadilhe veio logo a público confirmar, o Cristiano Ronaldo dos défices era ele, se havia algum troféu défice de ouro dever-lhe-ia ser entregue. Quanto à minudências da centésimas é coisa que não serve para comparações.
Neste ambiente de miséria humana o debate prosseguiu, se Centeno conseguiu 2,06% contra os 2,14% de Miguel Cadilhe, sem ter podido contabilizar num ano a receita de IRS de dois, Cadilhe responde que o défice não importa, ele ganha a Centeno no que toca à evolução da dívida. Como era de esperar meio mundo jornalístico foi investigar os factos e elaborara as mais complexas análises.
A verdade é que tudo isto é ridículo, como o é as mais variadas tentativas de desvalorizar o trabalho do ministro das Finanças. Cadilhe diz que a dívida aumentou mas a verdade é que não foi consequência do défice ou de decisões políticas do governo. Dizem que não houve crescimento público, mas a verdade é que mesmo em esse investimento público a economia cresceu.
Mas o facto mais relevante deste resultado nem está na comparação das centésimas, a verdade é que foi possível reduzir o défice a um valor quase abaixo dos 2% sem discursos dramáticos apoiados nas entrevistas do representante do FMI, sem penhoras e vendas de casas de habitação, sem perseguição e marginalização de grupos sociais e profissionais, sem chantagens sobre a oposição.
Conseguir um défice de 2,06% não é difícil, o difícil é consegui-lo com crescimento económico, com paz social, sem planos B, com devolução de rendimentos que foram prometidos sem objetivos eleitoralistas e a troco de sucessos fiscais, com diálogo social e com o boicote sistemático de uma oposição que nem se deu ao trabalho de participar nos debates orçamentais, optando por uma estratégia de chacota e gargalhadas.