Por aquilo que se vai lendo na comunicação social e a crer nos ataques mais recentes de personalidades da direita ao Presidente da República, o governo de António Costa estará a ser levado ao colo por Marcelo Rebelo de Sousa. Como estas posições surgiram quando as sondagens do PSD entraram no vermelho, é de supor que partem do pressuposto de que o PS pode beneficiar eleitoralmente das posições públicas de Marcelo.
Se António Costa beneficia da boa relação com o Presidente da República, este também beneficia do bom relacionamento que Costa proporciona e da sua lealdade e simpatia. Tanto quanto se sabe a perigosa geringonça lhe propôs para homologação presidencial qualquer diploma com normas inconstitucionais, mesmo nas chamadas questões fracturantes, se pode afirmar que o parlamento tenha decidido algo que faça corar o Papa Francisco.
António Costa e o seu governo nada devem a Marcelo Rebelo de Sousa, nenhuma proposta parlamentar beneficiou do apoio da oposição graças à sua intervenção, o défice de 2016 não foi conseguido por medidas sugeridas pela presidência, as medidas mais duras do OE não beneficiaram de um apoio público de Marcelo e, tanto quanto se sabe, se Marcelo não sujeitou diplomas ao Tribunal Constitucional isso não se deveu a um fechar de olhos à diatribes de um governo extremista, mas simplesmente ao facto de este ser um dos governos que mais respeitou a Constituição desde que esta foi promulgada.
Quanto aos pobres que tanto parecem preocupar Marcelo de Sousa, ao ponto de o antigo conviva dos jantares nos palacetes de banqueiros famosos, de aquém e além-Mancha ter passado a ser a visita assídua dos manjares dos nossos sem-abrigo, incluindo as receitas de atum daqueles que deixaram a rua, é bom recordar que até têm beneficiado de algumas medidas deste governo, adoptadas por sua iniciativa e por, alguns casos, por pressão do PCP e do BE, sem que António Costa ande por aí a gabar-se do seu franciscanismo, a distribuir papo-secos durante a noite.
Começa a ser tempo de começar a meter os pontos nos ii pois a democracia nada tem a ganhar com esta confusão em que a estratégia pessoal de Marcelo nos está a conduzir. Os governos só precisam dos presidentes quando dependem dos seus fretes, foi isso que sucedeu na relação entre Passos Coelho e Cavaco, se o Presidente e o Governo fizerem o que lhes cabe ambos têm a ganhar e acima dele o próprio país. Se os presidentes colaboram com os governos e se os governos respeitam os presidente, mais não fazem do que cumprir com a sua obrigação, é para isso que são eleitos. É isto o normal e não andar a ver vacas a rir u a mandar a comunicação social noticiar escutas a Belém, não é Marcelo que é fora de sério, foi Cavaco que foi mau demais.
A esquerda não precisa de “fretes” por parte de Marcelo e ninguém tem dúvidas de que se as coisas correrem mal o Presidente será o primeiro a demarcar-se do governo. Ao contrário do Presidente da República o governo tem um programa que apresentou aos eleitores e que submeteu ao parlamento e é pela forma e pela competência com que o cumpre que será avaliado pelos eleitores, tudo é mais transparente sem elogios num dia e porradinhas presidenciais no outro.
Não é saudável para a democracia, até se pode questionar se reflecte valores democráticos, ter uma oposição condicionada por um Presidente da República de quem se diz que não gosta do líder da oposição ou que esteja condicionado por alcunhas menos dignas como o "cata-vento". Pode parecer simpático para o governo, mas se um governo é competente deve dispensar estes jogos, em democracia um presidente não pode andar a escolher ou a derrubar governos e muito menos a condicionar lideranças partidárias. Se assim for teremos uma democracia de opereta com Marcelo armado em maestro.