Numa perspectiva ideológica há sempre uma escolha, para uns o rico é o cidadão bom cujo dinheiro tem o estatuto de independente, o pobre é um cidadão menos bom porque o dinheiro só serve para gastar e por vezes da pior forma. Para outro o pobre é sempre bom porque por maior que seja a bossa passa sempre pelo buraco da agulha, os ricos são sempre pecaminosos.
Nuns dias recebemos e-mails do fisco elogiando-nos porque provavelmente seremos premiados com o reembolso da sobretaxa do IRS, no outro somos inundados com notícias dos grandes sucessos conseguidos com penhoras. Num dia o país derrete-se em amabilidades com os investidores, no dia seguinte os investidores são a causa de todos os nossos males.
O nosso Estado, seja a Administração Pública, sejam os governantes, é bipolar na forma como trata os cidadãos, ora recorre à bajulação, ora persegue-os. Como eleitores somos exemplares, mas como contribuintes, como condutores, como trabalhadores, como empresários somos potenciais delinquentes. Os eleitores são bajulados, para os contribuintes, trabalhadores, empresários e demais malandragem social são montadas armadilhas para os esmifrar até a medula.
O próprio Estado e a classe política divide o rebanho em dois, o rebanho das ovelhas brancas e o rebanho das ovelhas negras. Cada cidadão tem de se habituar a viver neste mundo como se visse num país em guerra civil, tendo s disfarçar sempre que passa num check point, sob pena de ser separado e metido no rebanho das ovelhas negras. Se for empresário e lidar com a esquerda é conveniente que diga que é um micro-empresário, se for reunir com o Marques Mendes dá jeito ser chinês, se for atendido pela Cristas o melhor é pertencer à associação das famílias numerosas, para ser bem tratado pelo PSD dá jeito ter muito dinheiro.
Enfim, o Estado e os nossos governante e classe política têm algumas dificuldades em lidar com a cidadania.