A task force de Fátima deu a boa nova à comunicação social, dois dos pastorinhos, os que morreram jovens devido às doenças que na época dizimavam uma boa parte das crianças portuguesas, vão ser santinhos da Igreja Católica. A excitação era grande e a expectava de em vez de ocorrer no Vaticano, a canonização ser feita em Fátima quase deixava os prelados em êxtase.
Mas não venho aqui desancar nos futuros santinhos, depois do espetanço do Passos Coelho a minha crença no Diabo, seja na versão mafarrico ou Belzebu já não é grande, mas quanto a santinhos que curam doenças incuráveis é melhor ter cuidado não vá ter uma borra das antigas ou uma praga de Monte Gordo, uma dor de barriga tão grande que quanto mais dói mais corro, quanto mais corro mais dói e quando parar rebento.
O que me chamou a atenção foi o sotaque, os dois prelados e mais uma senhora que me parecei uma especialista na burocracia do Vaticano em matéria de produção de santinhos, tinham todos o sotaque dos corredores do Vaticano, um a mistura entre italiano e aquela forma que os padres têm de falar, um linguarejar com regras tão rigorosas como a do canto gregoriano, para que a sua voz nas homilias nos façam sentir que estamos ouvindo a voz de Deus. Aliás, quando vejo alguém a falar-me com esse arzinho fico logo nervoso, com receio porque quase de certeza que me vai lixar.
De repente lembrei-me de Vital Moreira e de muitos outros militantes do PCP da reacção Cunhal, uns mais arrependidos do que outros. Não estou sugerindo que a mudança ideológica de Vital Moreira é tão rápida que antes da canonização apareça num vídeo a anunciar a vitória dos pastorinhos sobre o mafarrico do Lenine. Não é que alguns ex-militantes do PCP não sejam uma verdadeira caixinha de surpresas, mas a minha imaginação não vai tão longe. A ligação está no sotaque, porque sempre que oco falar essa geração Cunhal fico com a sensação de que todos estiveram exilados na então Checoslováquia, ganhando o sotaque igual ao do Cunhal.
Já o Arnaldo Matos, que recentemente reassumiu um estatuto de grande líder e educador do proletariado, depois de expulsar o agora traidor Garcia Pereira, estando para o proletariado português como o Papa Francisco está para os devotos de Fátima, apresenta um bigode farfalhudo que nos anos 70 fez moda. Da mesma forma que o sotaque identificava a geração Cunhal, o bigode farfalhudo e convexo era prova de pureza ideológica de quem pertencia a MRPP.
À falta de bigode as camaradas do MRPP sujeitavam-se a uma disciplina estética, cuidadosamente vigiada por personagens como o Durão Barroso, impedindo-as de desvios ideológicos de pequeno-burguesas, evidentes em práticas como a depilação. Eram umas raparigas peludas, que se destingiam das peludas dos trotskistas dos Louçã pelo axadrezado das camisas. Enfim, um país de sotaques, bigodes e peludas.