Depois de uma gloriosa vitória no Estádio Nacional da Luz a seleção seguiu em romaria para o Funchal, cidade que está para a nação futebolística dos dias de hoje, como a aldeia de Aljustrel, em Fátima, está para a nação religiosa, ambas unidas na pessoa de um presidente que reúne todas as qualidades requeridas a um bom português, adepto da bola e crente na Nossa Senhora.
Há outras qualidades exigidas aos tugas e nesse capítulo é sabido que o presidente também já levou várias de mão, mas agora não convém falar dessas coisas, não vá estar por aí o calvinista Jeroen Dijsselbloem a ouvir, vindo de um mafarrico protestante é bem provável que concluísse que um país que gasta dinheiro a construir santuários e a vender velinhas não via longe.
Mas enquanto não chega a peregrinação à Cova de Iria o povo peregrinou em direção ao Funchal, onde se uniu em torno desse grande português, a quem devemos as poucas alegrias que tivemos na última década. Se na semana passada as televisões foram a Aljustrel entrevistar as sobrinhas netas dos pastorinhos, hoje convertidas em vendedoras de santinhos, nesta semana em vez da casa pobre das Jacinta e irmãos fomos ver o campo dos andorinhas, o bairro da Quinta do Falcão, o mais pobre do Funchal como convém a um herói nacional.
Desta vez a vedeta não foi o Marcelo mas sim os Aveiro, lá vimos a Dona Dolores Aveiro com os seus óculos escuros dignos de uma capa da Holla, a Georgina já teve direito a destaque digno de uma princesa de Bragança e ainda o Cristianinho que faz esquecer os filhos do D. Duarte. Desde a padeira de Aljubarrota que a populaça pobre não dava uma heroína nacional da estirpe das Dona Dolores ou mesmo da Kátia Aveiro. Quando a procissão regressar e se dirigir para a Cova de Iria, poderia fazer como agora, depois do jogo de Fátima, onde em vez de três golos dos suecos vamos ganhar em santinhos por três a zero, podia muito bem dar um pulinho a Aljubarrota e mudar o nome do Convento de Aljubarrota para Convento Dolores Aveiro.
O que estraga tudo é o nome um pouco espanholado, que não combina nada com a batalha onde demos uma grande coça aos castelhanos. Mas se é verdade que Portugal só tem lugar no mapa e assento na Assembleia Geral da ONU graças às bolas de ouro do Ronaldo, também é verdade que a espanholada nunca ouviu falar da Padeira de Aljubarrota, aliás, duvido que conheçam algum padeiro ou padaria local ou que tais personagens os irrita. O que os irrita mesmo é a Dona Dolores, o símbolo do orgulho tuga em Espanha.
Hoje todos devemos agradecer a Ronaldo e como o presidente do governo regional da Madeira garante que quem decide o nome do aeroporto é ele porque foi a Madeira que o pagou, Marcelo e Costa deviam fazer mais uma reunião, talvez amanhã quinta-feira, para decidir construir mais um aeroporto, desta vez em Santana, uma grande cidade já servida por uma autoestrada e que merece um aeroporto, quanto mais não seja para que os colonialistas paguem à ilha uma pequena parte do que lhe devem, a crer naquilo que dizia o Alberto João, então padrinho do agora pobre e mal agradecido sucessor.
Aliás, Portugal devia prestar todas as homenagens ao melhor pé quente do mundo, já não vou tão longe e sugerir a mudança do país para Ronaldolândia, mas o Teatro Dona Maria tinha um ar mais moderno e menos salazarista se passasse a chamar-se Sala de Espetáculos Kátia Aveiro. O Parque da Serafina passaria a Parque Cristianinho e a Torre de Belém devia passar a chamar-se Torre Ronaldo e ter uns neons tão luminosos que os estrangeiros que visitam Lisboa o conseguissem ler quando estivessem junto ao Forte do Bugio.