Para “autorizar” o PS a formar governo Cavaco Silva fez um conjunto de exigências, lembrando os tempos em que a maioridade era atingida aos 21 anos e os pais autorizavam a emancipação aos 18 para que os filhos pudessem tirar a carta. Curiosamente, nesse tempo era possível ser voluntário nas forças armadas e depois de uma recruta apressada estar na frente de combate na guerra colonial.
A geringonça foi uma espécie de governo de um PS emancipado por Cavaco Silva, como se fosse um jovem voluntário ou condutor todos apostavam numa morte precoce. Passos Coelho ria à gargalhada das intervenções de Mário Centeno na sua primeira ida ao parlamento. Toda a direita apostava numa queda rápida e com estardalhaço do governo de António Costa, Passos nem desfez as malas que trouxe de São Bento e Assunção Cristas andou a fazer de conta que ainda devia obediência ao presidente do PSD.
Até setembro do ano passado a direita estava convencida de que a geringonça levaria o país ao desastre, o problema não eram os juros, o investimento ou o crescimento económico, eram apenas as contas públicas. Um mau desempenho das receitas e o aumento descontrolado da despesa levariam ao ambicionado segundo resgate.
Passos Coelho tudo fez para forçar o governo a manter as suas medidas de política económica, estava convencido de que regressaria ao poder muito em breve, gostava de reencontrar os cortes de vencimentos e de pensões tal como os tinha deixado. A confiança no desastre era tal que hoje se sabe que Passos nem se deu ao trabalho de pensar nas autárquicas, estava convencido de que antes dessas eleições haveria lugar a eleições legislativas antecipadas.
Mas a execução orçamental de setembro foi um “Vade retro Santana”, ao contrário do que o então primeiro-ministro no exílio o mafarrico não apareceu, os seus sonhos de regresso em glória ao poder transformaram-se num pesadelo. Começou então a sua luta contra o tempo, deixou de ter vontade de rir até às lágrimas de Mário Centeno, até deve ter percebido que o ministro das Finanças tinha mais conhecimentos de política económica no dedo mindinho do que a sua Maria Luís em todos os neurónios.
Tudo corria mal, a economia começava a crescer, a despesa estava controlada, o BCE continuava a intervir no mercado financeiro, continuava em queda nas sondagens e se o mafarrico não apareceu quem andava agora por aí a infernizar-lhe a vida era o Rui Rio. Ainda por cima o Centeno somava vitórias, tinha resolvido o problema do BANIF, sobreviveu à falsa crise da TSU, conseguiu o apoio de Bruxelas para a recapitalização da CGD e quando enfrentava a guerrilha de Passos na questão das mensagens SMS rebenta o escândalo das off shore.
Agora é Passos que precisa de ir à bruxa ou de fazer uma sessão de exorcismo berrando ao belzebu “Vade retro satana / Numquam suade mihi vana”, “Afasta-te, Satanás / Nunca me tentes com coisas vãs”. Passos está pagando com língua de palmo ter rido até às lágrimas no primeiro dia em que Centeno foi ao parlamento, esse foi o primeiro dia do fim da sua carreira política.