Há nove anos que vivo em regime de austeridade, desde o primeiro corte de 10% do vencimento decidido ainda pelo governo de Sócrates que perdi o direito a pensar no futuro. Fui vítima das experiências idiotas de um iletrado que a coberto de uma experiência de política económica me cortou mais de 25% do rendimento, como o corte de 10% do vencimento era pouco, aumentaram o horário de trabalho em mais de 14% sem qualquer contrapartida, aumentaram os descontos para tudo e mais alguma coisa, recorreram a todos os truques para ser vítima de uma desvalorização fiscal na ordem dos 30%.
Dez anos são quase uma quarta parte da nossa vida profissional, um quarto da nossa vida em que deixámos de ter direitos, em que a Constituição só servia para defender os direitos pessoais ou comerciais de alguns, já que os meus foram ignorados por Cavaco Silva, um homem que percebia mais de negócios de acções do BPN dos que dos direitos constitucionais dos cidadãos que em má hora o elegeram.
Hoje todos sabemos que tudo isto apenas serviu para tentar salvar banqueiros corruptos e corruptores, para promover economistas ambiciosos, para testar novas políticas económicas. Falhada a experiência o país vai recuperando do trauma. Feitas as contas ao que perdi e ao que me foi extorquido estamos falando de muitas dezenas de milhares de euros.
Isto significa que já paguei um bilhete bem caro para o espectáculo, refiro-me ao espectáculo da verdade. Tenho direito a saber tudo o que se passou no BES, não apenas em nome da cidadania mas também do que me foi tirado, dos muitos que foram forçados a emigrar, dos que morreram abandonados nas portas das urgências.
EM nome da salvação do sistema financeiro fui roubado, tiraram-me direitos, sujeitaram-me a experiências económicas. Agora que tudo falhou querem que fique na ignorância em nome da estabilidade do mesmo sistema financeiro. Não é aceitável, os cidadãos não servem apenas para serem sacrificados sem saberem em nome de que beneficiados. Paguei bilhete para saber tudo sobre os causadores de todo este sacrifício, seja o Carlos Costa, o Paulo Núncio ou o Ricardo Salgado.